Em uma colônia israelense da Cisjordânia ocupada, Moshe Katz, um instrutor de krav maga, se inspira nos ataques do Hamas que desencadearam a guerra em Gaza em 7 de outubro de 2023 para ensinar seus alunos a se defenderem contra os agressores e suas armas.

“Primeiro vou tomar você como refém, depois você faz a mesma coisa comigo”, explica o instrutor americano-israelense a um discípulo enquanto segura uma réplica de um fuzil kalashnikov feito com borracha azul.

Quando é a sua vez de fazer o papel de refém, Katz, um judeu ultraortodoxo, pede a seu companheiro que o segure pela parte de trás da camisa.

“Agora ele está me segurando aqui. Digo a mim mesmo que não serei uma vítima, de jeito nenhum”, afirma o instrutor, antes de agarrar o cano da réplica de fuzil e virá-lo contra o potencial agressor. “Hoje é a sua vez de morrer, não a minha!”, exclama.

Moshe Katz, de 63 anos, converteu o porão de sua casa em uma academia para ensinar krav maga, o “combate próximo”, uma técnica de defesa pessoal praticada pelo Exército israelense desde a criação do país em 1948.

Katz vê no sentimento de insegurança dos israelenses desde 7 de outubro uma oportunidade para compartilhar seus conhecimentos sobre essa técnica de combate corpo a corpo que se inspira no aikidô, no boxe, no judô, no caratê e na luta olímpica.

“É só para saber que podemos nos proteger”, explica Esther Cohen, que ajuda Katz em suas aulas.

“Estão acontecendo coisas bastante violentas”, diz esta mulher, que chega à academia com uma arma adquirida recentemente. “Não quero me sentir impotente”, acrescenta.

– Mais armas de fogo –

O ataque sem precedentes perpetrado por comandos do Hamas em solo israelense causou a morte de 1.195 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço feito pela AFP com base em dados oficiais israelenses. Entre os mortos havia mais de 300 militares.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva no território palestino, que deixa mais de 38.900 mortos até agora, em sua maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo dados do Ministério da Saúde do governo de Gaza, dirigido pelo Hamas.

Katz mostra a seus alunos como repelir um ataque com faca utilizando objetos de cozinha e como desarmar um homem durante uma agressão em Maale Adumim, sua colônia israelense.

Todas os assentamentos israelenses nos territórios ocupados são considerados ilegais segundo o direito internacional.

A Corte Internacional de Justiça (CIJ) decidiu na sexta-feira que a ocupação israelense dos territórios palestinos é “ilegal” e indicou que Israel tem a obrigação de encerrá-las “o mais rapidamente possível”.

Desde o início da guerra em Gaza, as colônias na Cisjordânia se expandiram, e a violência no território ocupado alcançou níveis que não eram vistos há décadas.

Pelo menos 576 palestinos foram mortos por soldados ou colonos israelenses, segundo as autoridades palestinas, e pelo menos 16 israelenses, incluindo soldados, morreram em ataques ou atentados palestinos, segundo números oficiais de Israel.

Katz afirma que alguns de seus alunos deixaram de comparecer às aulas pelo aumento da violência. O número de participantes nas sessões que acontecem duas vezes por semana caiu pela metade desde o início da guerra, restando menos de dez.

“Gostaria de poder dizer que as pessoas comparecem em massa para aprender krav maga, mas não é o caso”, lamenta. “O que vejo é que as pessoas estão comprando mais armas”, destaca.

O governo relaxou em março a lei sobre a posse de armas de fogo, o que fez as vendas dispararem.

Perto de Tel Aviv, na cidade de Ra’anana, outra academia de krav maga afirma que o número de alunos aumentou.

“Logo após a guerra, houve menos treinamento. Depois, observamos nas pessoas certa vontade de aprender a se defender”, explica Jonathan, de 22 anos, um instrutor que prefere não dar seu sobrenome.