Nomeado primeiro-ministro do Líbano há menos de um mês, Mustapha Adib renunciou neste sábado (26) para formar um governo composto de ministros “independentes”, como a França queria, após ter enfrentado a obstinação de alguns partidos que estão no poder em preservar suas prerrogativas.

Embaixador do Líbano na Alemanha desde 2013, ele foi colocado no centro do cenário político em 31 de agosto, ao ser nomeado para substituir Hasan Diab, cujo governo renunciou após a explosão mortal ocorrida em 4 de agosto no porto de Beirute.

Sua indicação foi apoiada por um grupo de ex-primeiros-ministros, e aconteceu poucas horas depois da segunda visita do presidente francês Emmanuel Macron, na qual pressionou os principais líderes políticos do país a formarem “rapidamente” um governo para tirar o Líbano da crise.

Desde que foi indicado, Adib se comprometeu a formar uma equipe ministerial composta por “especialistas” e pessoas “competentes”, capazes de realizar as tão esperadas reformas no país.

Ele também mencionou a “necessidade de formar um governo em tempo recorde e começar a implementar as reformas, tendo como ponto de partida um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, em um país em plena crise econômica.

Mas pareceu ser uma tarefa difícil, mesmo com a pressão francesa, não somente diante das múltiplas engrenagens políticas e confessionais do sistema libanês, mas também por causa do enorme desafio de fazer as mudanças em meio ao fato de ter sido escolhido por uma classe dominante duramente criticada há meses pelos opinião pública.

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Diante das divergências sobre a distribuição de pastas ministeriais entre as diferentes forças confessionais, Adib optou por jogar a toalha.

Entre os principais obstáculos estão o movimento xiita armado Hezbollah – um peso pesado da política local – e seu aliado Amal, liderado pelo líder do Parlamento, Nabih Berri, que reivindica o Ministério das Finanças.

– “Calmo, educado e diplomático” –

Casado com uma francesa e pai de cinco filhos, Adib completou 48 anos no último domingo e nasceu na cidade de Trípoli (norte do Líbano). Ele é um muçulmano sunita, em um país onde o poder é baseado no consenso entre as comunidades.

De acordo com a Constituição, o cargo de chefe de governo pertence à comunidade sunita.

No site da embaixada libanesa em Berlim, Adib é citado como professor universitário, com doutorado em Ciência Política.

Realizou “pesquisas nas áreas de segurança (…) descentralização e democracia local, assim como sobre o código eleitoral”.

“Em sua atuação profissional e pessoal, ele sempre foi um estudante universitário aplicado, com temperamento calmo, educado e diplomático”, relatou um amigo próximo de Adib, que preferiu não ser identificado.

De 2000 a 2004, ele foi conselheiro de Najib Mikati, um bilionário e ex-primeiro-ministro, que assim como ele é natural de Trípoli.

– Rejeitado nas ruas –

O novo primeiro-ministro visitou no dia da sua nomeação um bairro devastado pela explosão do porto de Beirute, que deixou mais de 190 mortos e milhares de feridos. Nem o presidente Michel Aoun nem o ex-primeiro-ministro visitaram esses bairros.


Adib se reuniu com vários moradores, pediu que confiassem nele e trabalhassem “lado a lado”.

Se alguns moradores gostaram de sua atitude, outros por sua vez o vaiaram e gritaram palavras de ordem das manifestações iniciadas em outubro do ano passado, que exige a saída de toda a classe política considerada corrupta e incompetente.

Nas redes sociais, os militantes foram rápidos em comparar Adib a seu antecessor Diab, que em vão havia prometido em janeiro liderar o primeiro governo de tecnocratas independente dos tradicionais partidos no poder.


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