SÃO PAULO, 26 SET (ANSA) – Por Lucas Rizzi – Uma orquestra liderada por jovens músicos da periferia de Recife (PE) e formada por artistas de países em guerra, como Ucrânia, Rússia, Palestina e Israel, se apresentará para o papa Leão XIV no próximo dia 8 de outubro, no âmbito de uma turnê internacional para promover a paz.
O projeto é capitaneado pela Orquestra Criança Cidadã, fundada na capital pernambucana em 2006 e que embarcou nesta sexta-feira (26) com destino a Seul, na Coreia do Sul, primeira etapa de uma viagem que também passará por Hiroshima e Osaka, no Japão, antes de seguir para Roma.
Ao todo, o conjunto é formado por 14 músicos brasileiros ? alguns deles em sua primeira viagem internacional ? e 14 de outras sete nacionalidades: Coreia do Norte, Coreia do Sul, Irã, Israel, Palestina, Rússia e Ucrânia, protagonistas dos principais conflitos da atualidade ou de hostilidades perenes, como no caso da Península Coreana.
“Nossa expectativa é a melhor possível, ainda mais porque o Papa tem preconizado por demais o tema da paz, e esses músicos formam um projeto com o lema ‘Na arte não há guerra'”, disse à ANSA João Targino, idealizador e coordenador da Orquestra Criança Cidadã, que já se apresentou para o finado papa Francisco em 2014 e 2023.
“Vamos mostrar que a música é uma linguagem universal. Se na arte houvesse guerra, um iraniano não tocaria ao lado de um israelense, ou um sul-coreano ao lado de um norte-coreano.
Quando a guerra é deflagrada, é a humanidade que fica de joelhos, é a humanidade revelando o que há de mais bestial dentro de si”, acrescentou.
Um dos músicos brasileiros envolvidos na iniciativa é o violoncelista Davi Alves, que entrou para a orquestra quando tinha seis para sete anos e hoje, aos 26, é professor dos jovens alunos que seguem seus passos no projeto. Ele também estava entre os que se apresentaram para o papa Francisco em 2014.
“Eu me sinto muito privilegiado, abençoado, porque quem consegue esse feito de tocar para dois papas diferentes? Vou levar o nome do Brasil, de Recife e de Pernambuco para o mundo”, declarou o violoncelista, que ainda tem gravados na memória os aplausos dados para os músicos brasileiros no Vaticano há 11 anos.
“Aquilo foi um divisor de águas na minha vida. Fui o primeiro da família a entrar em um avião, a ir para fora, então acho que também pode ser um divisor de águas para os jovens que estão começando. A música pode te levar para lugares que você não imaginava”, salientou Davi.
Além do concerto para o papa Leão XIV, a orquestra se apresentará em Seul (30/9), no marco zero da bomba atômica em Hiroshima (4/10) ? um sonho antigo de Targino ?, no pavilhão do Brasil na Expo Osaka 2025 (5/10) e na Basílica de Santa Cruz em Jerusalém, em Roma (7/10).
O repertório foi definido pelo maestro José Renato Accioly e é dividido em duas partes. A primeira, chamada “Comunhão dos Povos”, tem duetos de violinos que exibirão frente a frente músicos de países adversários em conflitos: um russo e um ucraniano, um da Coreia do Sul e outro do Norte e um iraniano e um israelense.
“Também fizemos uma composição especialmente para o projeto, a Rapsódia das Nações, que toca temas de todos os países em conflito, finalizando com um tema do Brasil, já que é da nossa tradição trabalhar pela paz”, explicou Accioly.
A segunda parte do programa é dedicada à música latino-americana, incluindo uma composição de Camargo Guarnieri, um tango de Astor Piazzolla e um pot-pourri de bossa nova, choro e frevo, totalizando cerca de 1h20 de concerto. Já o bis conta com as canções “Por una cabeza”, popular tango de Carlos Gardel, e “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso.
“A gente sabe que um concerto ou uma turnê não vai trazer paz, mas pode chamar atenção para essa possibilidade e reforçar que na arte não há conflito. A gente pode estar lado a lado e fazer coisas belas para emocionar as pessoas”, disse o maestro.
(ANSA).