O pianista britânico Paul Lewis, que em 20 de maio completa 44 anos, chega ao Brasil com dois discos, lançados pela Harmonia Mundi – mesmo selo pelo qual já gravou as sonatas e os concertos para piano de Beethoven, assim como a obra tardia de Schubert.

O primeiro traz a interpretação da versão original para piano dos Quadros de Uma Exposição, em que o russo Mussorgsky recria, peça a peça, telas que observou em uma exposição dedicada ao artista plástico russo Viktor Hartmann, em São Petersburgo. O segundo é inteiramente dedicado a Brahms, com o Concerto para Piano e Orquestra n.º 1 e as Baladas Op. 10 (que estão no programa do recital que será realizado nesta terça-feira, dia 19).

“Os Quadros de Uma Exposição são, para mim, a essência das peças de caráter. Depois de anos trabalhando com obras de Beethoven e Schubert, foi libertador mudar para essas partituras curtas, dando a elas coloridos dos mais diferentes”, informa Lewis. “É curioso, mas não vejo em Mussorgsky uma alma russa, como há em Shostakovich ou Rachmaninov. Gosto do que ele tem de único, de diferente, que é certa escuridão associada a uma transparência. E isso exige que o pianista precise pensar o piano de forma orquestral, usando o máximo possível de possibilidades expressivas”, conta ainda.

Contrastes

Brahms, por sua vez, levou Paul Lewis em outra direção. O Concerto n.º 1 foi idealizado a princípio como uma sinfonia, lembra Lewis. “Eventualmente, ela acabou se tornando uma obra para piano e orquestra, mas carregou consigo esse caráter sinfônico, o que leva a uma dificuldade na hora de dosar os contrastes dessa música.”

Para o pianista, não há problema em estabelecer paralelos entre vida e obra do compositor. “Apesar da grandiosidade, há passagens de uma delicadeza muito grande, que soam quase como música de câmara. Não é por acaso. A partitura é, em alguns momentos, o retrato bem acabado de Clara Schumann e mostra o claro desespero perante a tentativa de suicídio de seu marido, o compositor alemão Robert Schumann (1810-1856), que se jogou nas águas do rio Reno. Quando se ouve as primeiras notas do concerto, é fácil perceber as águas. Eu sempre me espanto com a capacidade de Brahms de colocar em música tais sentimentos”, conclui o pianista inglês.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.