O ator e diretor Beto Marden entrou em contato com a obra de Renato Russo (1960-1996)  a partir de trechos de um texto escrito durante os 29 dias em que o cantor e compositor, vocalista do Legião Urbana, esteve internado em uma clínica de recuperação, no Rio de Janeiro, para tratar a dependência química. As reflexões de Russo, publicadas no livro-diário Só por hoje e para sempre (2015, Companhia das Letras), acionaram a faísca de inspiração para Marden criar Seráum Grito Musical. 

Beto passou a acalentar e estudar este projeto. Depois de feita a pesquisa, encomendou o texto a Raphael Gama que colocou no papel as ideias de Russo, expressando o pensamento de toda uma juventude. A encenação do espetáculo solo de teatro musical, baseado nas palavras do músico, conjunto de folhas soltas, estreia em apresentação única no dia 3 de dezembro na Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo.

Inédita, a obra não conta a história da vida do artista, é uma jornada intensa e emocional, onde o personagem compartilha suas questões, desejos, conflitos e desafios, através de cinco arquétipos: o menino, o rebelde, o feminino, o adulto e o comunicador. O roteiro de Raphael Gama, inspirado na vida e obra de Renato Russo, costura a trilha sonora, unindo as músicas ao enredo.

Beto, que também é apresentador e repórter, já participou de diversos musicais em mais de 20 anos de carreira no teatro e faz sua estreia atuando sozinho no palco. Entre músicas e textos, o espetáculo aborda temas como recomeços, descobertas, superações, amores e medos.

“A ideia é resgatar sua mensagem de coragem e ousadia em enfrentar temas tabus como saúde mental, sexualidade, aceitação, preconceitos, drogas. Mesmo 30 anos depois, essas questões continuam relevantes. Nossa intenção é incentivar a reflexão e o diálogo, celebrando a diversidade e promovendo uma sociedade mais inclusiva”, afirma Marden.

“Beto se despe de si e se veste dos tipos psicológicos que Renato Russo tão brilhantemente exibia em suas rítmicas poesias. Renato transbordou para que nós pudéssemos nos banhar em sua genialidade e encararmos esse espelho”, diz o autor e diretor.

Cenário e figurino

Ícones do universo de Renato Russo estão presentes no cenário minimalista que traz rosas (“Russo amava flores”).  Toda a ação acontece sobre um tapete redondo, de estampa florida, onde Marden se posiciona ao centro, com o trio de músicos atrás, e interpreta as cinco personas, apresentadas por um MC, mestre de cerimônias.

“Para diferenciar um personagem do ouro, uso chapéus de estilos diversos, pendurados em um mancebo”, conta. “Com base em nossas referências, recorremos à Inteligência Artificial para criar o personagem mais extravagante da música pop. A proposta era que fosse completamente diferente do Renato Russo, um introspectivo.”

Assim, partindo de Elton John e do Chapeleiro Maluco, de Alice no País das Maravilhas, a figurinista e costureira Jô Felix adaptou e criou os moldes para dar vida aos modelos.

“Será o momento de expormos nossas dores e intimidades? Será o momento de explorarmos nossa complexidade na frente dos outros? Será o momento de mergulhar na vida de outro artista para nos encontrarmos? Nós, devotados operários dos palcos, constantemente nos deparamos com o medo de nos expormos frente ao nosso público, de cutucarmos feridas com receio de que sangre demais. Mas o teatro brilha em meio à catarse. E o artista é uma ferramenta terapêutica. Sangramos para curar as suas feridas. Cutucamos as nossas para as suas cicatrizarem”, questiona Gama, que também é o diretor do monólogo musicado.

Serviço

Centro Cultural São Paulo

Sala Adoniran Barbosa. Rua Vergueiro, 1.000, Liberdade

Dia 3 de dezembro, terça-feira, às 19h

Duração – 70 minutos

Capacidade – 400 lugares

Entrada gratuita