Sergei Diaghilev não dançava nem tocava nenhum instrumento, mas foi o grande responsável por levar os balés russos ao topo do mundo. Além de revelar os bailarinos Vaslav Nijinsky e Anna Pavlova, o empresário encomendou criações a compositores como Debussy, Ravel e Prokofiev. Nenhum deles, no entanto, se mostrou tão revolucionário quanto o jovem de 28 anos que Diaghilev convidou para reger os balés “O Pássaro de Fogo”, “Petrouchka” e “A Sagração da Primavera”: Igor Stravinsky.

Em 2021, em homenagem ao aniversário de 50 anos da morte do compositor, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) apresenta o ciclo “Stravinsky 50”, com regência do maestro Thierry Fischer e o violinista Emmanuele Baldini como solista. “A colaboração entre Diaghilev e Stravinsky revelou uma capacidade extraordinária de captar o frescor da época e permitiu a chegada de novas ideias. Esses três balés estão eternamente associados ao entusiasmo inspirado pela chegada do século 20”, diz Fischer. “A música de Stravinsky traz uma irresistível onda de modernidade e está mais viva que nunca. A parte rítmica é crucial e a abordagem da orquestra será de respeito à partitura original, deixando a música florescer.” Para o maestro, o compositor “é o Johann Sebastian Bach do século 20.”

“Sua música traz uma irresistível onda de modernidade e está mais viva do que nunca” Thierry Fischer, maestro da OSESP (Crédito:Divulgação)

A OSESP apresenta “O Pássaro de Fogo” na Sala São Paulo no sábado 19, com plateia reduzida e transmissão pela internet. A obra foi composta para a temporada de 1910 dos Balés Russos em Paris. No ano anterior, 1909, Diaghilev assistira em São Petesburgo à peça “Feu d’Artifice”, de Stravinsky, com duração de apenas quatro minutos. Foi o suficiente para impressioná-lo: contratou o compositor logo após o concerto, mesmo sem saber se ele seria capaz de escrever uma obra completa para balé.

Em 25 de junho, o ciclo “Stravinsky 50” segue com “Petrouchka”, de 1911. No dia seguinte, 26, será a vez da obra mais conhecida, “A Sagração da Primavera”. Com estreia em 29 de maio de 1913 no Théatre dês Champs-Elysées, em Paris, sua apresentação provocou um revolução. Marcada pelo ritmo vigoroso e uma complexa sequência de melodias dissonantes, além da coreografia de Nijinsky, que simulava rituais pagãos de fertilidade, a obra era tão inovadora que originou um motim na plateia, cuja reação se dividia entre vaias e aplausos. Ao final da peça, houve briga nos corredores entre os admiradores e críticos de Stravinsky – a polícia teve de ser chamada para conter os ânimos. A reação na imprensa, porém, foi tão arrasadora que levou o compositor a ficar mais de um mês internado em um hospital. Quando Stravinsky morreu, em 6 de abril de 1971, em Nova York, já havia sido absolvido há muito tempo por toda a crítica. A opinião sobre sua genialidade já era unânime – e seu nome havia sido incluído no cânone dos grandes mestres da música.