O meteorito Bendengó segue incólume no hall de entrada do Museu Nacional, a despeito de toda a destruição a sua volta. Com 4,56 bilhões de anos, a rocha espacial resistiu ao incêndio que destruiu a instituição em setembro do ano passado. Hoje, é o símbolo maior dos trabalhos de reconstrução do prédio e da resiliência da ciência no País.

Oriundo de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter, o meteorito viajou até Monte Santo, no sertão da Bahia, onde foi achado em 1784. O transporte da rocha de 5,36 toneladas para o Rio de Janeiro no século XIX foi algo muito próximo de uma epopeia espacial. É uma das peças mais antigas da coleção do museu, onde está desde 1888, e, segue sendo uma espécie de âncora do acervo que vem sendo recuperado em meio aos escombros deixados pelo fogo.

“O meteorito não sofreu quase nenhuma alteração por conta de suas características: essas estruturas vêm do espaço, enfrentando temperaturas muito mais altas do que qualquer incêndio que possa ocorrer aqui na Terra”, explicou o paleontólogo Sérgio Azevedo. “O Bendengó é uma peça muito importante, que está na exposição desde o início e agora é um símbolo da resistência do museu, um testemunho de todo o trabalho que está sendo feito aqui.”

Nesta terça-feira, a direção do museu abriu as portas à imprensa pela primeira vez desde o incêndio, que acompanhou, durante toda a manhã, os trabalhos de arqueologia da equipe de resgate em meio aos escombros deixados pelo fogo. É um trabalho meticuloso, delicado, e, sobretudo, de muita paciência.

O trabalho que está sendo concluído este mês é o de estabilização do prédio, que perdeu teto, muitas paredes e vários andares. O escoramento permite, agora, que as pessoas andem dentro do prédio, trabalhando no resgate arqueológico. Até o fim de março, será instalada uma cobertura provisória do prédio, cujo objetivo é proteger as peças que ainda estão por ser resgatadas.

“Assim que todo o trabalho de estabilização estiver concluído e a cobertura pronta, vamos focar o trabalho nas áreas que precisam de escavação sistemática”, explicou a arqueóloga Cláudia Carvalho, líder da equipe de resgate. “É um trabalho delicado, a gente identifica um objeto, analisa a situação, determina uma estratégia de abordagem; o material vai para a área de triagem, recebe um número de registro e, dependendo da situação, vai para o laboratório, para limpeza e armazenamento, até podermos fazer um inventário mais detalhado.”

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Cláudia contou que já foram feitos dois mil registros de peças achadas dentro do museu. “A maioria é de objetos que, por sua natureza, são mais resistentes, como cerâmicas, rochas, minerais, fósseis”, disse.

Mas esse trabalho ainda é muito superficial. Trata-se apenas de registrar o achado e guardar, basicamente. Somente num segundo momento, haverá uma avaliação mais aprofundada do que pode ser resgatado em termos de porcentual do acervo original.

Uma exposição – ainda sem data para acontecer – será aberta ao público para exibir, justamente, esse trabalho de resgate e as peças já encontradas.

Já se sabe que parte significativa do crânio de Luzia – o fóssil mais antigo das Américas, com cerca de 11 mil anos – foi resgatado. E que o Bendengó seguirá impávido em seu lugar na entrada do museu, saudando o público ainda por muitos anos.


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