Roll over, esculturas gregas e pinturas renascentistas: guitarras, baixos, baterias, amplificadores e sintetizadores ocupam espaço especial em meio aos 5 mil anos de arte representados no Metropolitan Museum, com a exposição Play It Loud – Instruments of Rock and Roll, que o museu nova-iorquino exibe a partir desta segunda, 8, até 1º de outubro. Instrumentos que evidenciam o DNA do rock são distinguidos na exposição apenas por seu design, como ícones da música que, há cerca de 70 anos, influenciam moda, dança, sexualidade, cultura jovem e liberdade de expressão.

Pianos, saxofones, violinos e até instrumentos medievais são celebrados fora dos palcos e estúdios na primeira exposição de um grande museu de artes visuais inteiramente dedicada à participação deles na história do rock. Guitarras elétricas, que deram o som característico a um dos movimentos mais influentes na história da música, estão em maior número entre os cerca de 130 objetos. Usadas por alguns dos artistas e em momentos mais importantes na cronologia do estilo, elas são personagens principais no cenário do rock desde quando ele começou a nascer nas raízes da música negra dos EUA.

Pontuando avanços tecnológicos, os grandes deuses da guitarra, a identidade do rock e outros temas, encontram-se a Fender “The Hoss” tocada por Muddy Waters até sua morte, em 1983, a Gibson ES-350T com que Chuck Berry gravou Johnny Be Goode, em 1958, e a Rickenbacker de 12 cordas com a qual John Lennon gravou A Hard Day’s Night, em 1964. A Warlock vermelho metálico de Max Cavalera, da banda brasileira Sepultura, também está lá, entre as guitarras coloridas e angulares preferidas do hard rock e heavy metal nos anos 1980.

Da bateria simples que Ringo Starr usou nos primeiros anos dos Beatles, o Moog do solo em Lucky Man (1970) do Emerson, Lake and Palmer, e o equipamento completo de Jimmy Page na era Led Zeppelin, plataformas usadas em shows ao vivo ou gravações ilustram como os roqueiros criaram seus sons individuais, aumentaram o volume e definiram os gêneros do rock em várias gerações. Cartazes, vídeos e trajes completam Play It Loud como componentes do estilo visual do movimento de maior impacto que a música já registrou.

Mesmo sendo objetos físicos, imóveis e mudos, os instrumentos se associam aos artistas que os tocaram como parte da imagem deles. Chuck Berry foi um dos primeiros a explorarem esse efeito. Graças à amplificação da guitarra, que o liberou de ficar atrás de um microfone, ele capitalizou a liberdade para dançar enquanto tocava, circulando pelo palco com seu jeito característico de pular com um pé e bater o calcanhar do outro na marcação do ritmo.

O instrumento em si é fundamental tanto para a música como para a iconografia do rock. Na introdução do catálogo de Play It Loud (236 págs., distribuição pela Yale University Press, ISBN: 9781588396662), Craig James Inciardi, diretor de aquisições do Rock & Roll Hall of Fame, cita como ilustração perfeita de “resposta pavloviana do público” a uma imagem o que ocorre regularmente em shows com Don Felder, ex-guitarrista dos Eagles. A simples visão de um técnico trazendo para o palco um violão Gibson branco de dois braços faz a plateia urrar, pois isso indica que Felder vai tocar Hotel California, de 1976.

Apesar da reputação de tocar guitarras extravagantes, Prince usou como seu principal instrumento de trabalho uma MadCat dos anos 1970 que teria comprado num posto de gasolina em Minneapolis por cerca de US$ 30. Segundo consta, a escolha se deu porque o pickguard com estampa de leopardo combinava com a faixa e a roupa de palco dele. Questão de imagem.

Ferramentas para fazer música, acima de tudo, os instrumentos que produzem, ampliam ou modificam os sons servem como inspiração para os músicos. A eletrônica de ponta da Wolf que Jerry Garcia usou com o Grateful Dead entre 1973 e 1979 lhe deu uma variedade de opções tonais que ele descreveu como “12 guitarras em uma”. A Wolf também foi a primeira guitarra na qual Garcia experimentou fazer Midi (sigla em inglês de interface digital para instrumentos musicais), conectando sintetizadores, instrumentos e computadores. Aclamado como um dos maiores guitarristas rítmicos do rock, Keith Richards mantém sua fama em grande parte pelo resultado de afinações alternativas ajustando as cordas de suas guitarras a um acorde maior. Amplificadores combinados Fender 5F8 dos anos 50 são usados para alcançar sua mistura de tons no estúdio e ao vivo.

Mulheres. Mesmo depois da década de 1960, a da liberação feminina, as mulheres nas bandas de rock ainda ficavam limitadas aos vocais. Por isso elas estão sub-representadas em Play It Loud, segundo explicam Jayson Kerr Dobney, do Departamento de Instrumentos Musicais do Met, e Inciardi, diretor de aquisições do Rock & Roll Hall of Fame, que organizaram a exposição. Guitarristas como Wanda Jackson e Joni Mitchell e a baterista Maureen Tucker, do Velvet Underground, são exceções que confirmam a regra.

Entre os instrumentos preferidos das roqueiras, além da archtop curvilínea que Joni Mitchel tocou em Shadows and Light, disco gravado ao vivo em 1979, está o baixo que Tina Weymouth, uma das fundadoras do Talking Heads, comprou em 1980 e continua tocando com ele até hoje. Play It Loud destaca ainda a primeira guitarra adaptada à ergonometria do corpo feminino, desenhada em 2015 por Annie Clark, profissionalmente conhecida como St. Vincent. Para a exposição, ela cedeu o instrumento que usou em sua turnê solo de 2017. Ele pesa pouco mais de 3 quilos e, segundo Annie comentou em sua conta no Instagram, “tem espaço para um seio. Ou dois”.