“Alô, alô, planeta Terra chamando, planeta Terra chamando.” Na noite de terça-feira, 3, aconteceu, em São Paulo, o lançamento da nova versão de ‘Mundo da Lua’ — exibida originalmente entre 1991 e 1992. A nova temporada estreia na TV Cultura no dia 28 de junho, às 19h, e promete novas aventuras. A reportagem da IstoÉ Gente marcou presença no evento e conversou com o elenco, que conta com nomes renomados, incluindo o ator Antônio Fagundes, de 76 anos, intérprete de Rogério na produção original.
A produção apresenta Marcelo Serrado no papel de Lucas Silva e Silva adulto, vivido por Luciano Amaral na primeira versão. Na nova versão, o ator é piloto de aviões, casado e pai de Emília, de 9 anos, a protagonista do novo seriado, vivida por Sabrina Souza. A filha segue o legado do garoto criativo e inteligente, e adora fazer projetos de robótica. Assim como o pai na infância, ela começa a sonhar acordada em diversas situações do dia a dia, ao longo de 24 episódios.
O icônico gravador vai parar nas mãos de Emília, que reproduz a famosa chamada: “Alô?! Alô?! Planeta Terra chamando. Planeta Terra chamando. Essa é mais uma edição do diário de bordo de Emília Silva e Silva, falando diretamente do Mundo da Lua, onde tudo pode acontecer.”
Outros atores do elenco, como Mariana Blum (Juliana Silva e Silva), retornam aos papéis originais. Pathy Dejesus (Isabela Silva), Bárbara Bruno (Carolina Silva) e Patricia Gasppar (Benedita) estão entre os novos nomes.
Criada por Flávio de Souza, a série Mundo da Lua foi exibida originalmente pela TV Cultura entre os anos de 1991 e 1992, e mostrava as aventuras imaginárias de Lucas Silva e Silva, um garoto de 10 anos vivido por Luciano Amaral, que registrava histórias fantásticas em um gravador dado por seu avô Orlando, personagem interpretado por Gianfrancesco Guarnieri.
A produção, que retorna após mais de 30 anos, é resultado de uma parceria entre a TV Cultura e o SESI-SP, com realização da Mixer Films.
Em entrevista à IstoÉ Gente, João Daniel Tikhomiroff, diretor-geral e artístico da nova temporada de ‘Mundo da Lua’, contou como foi o processo de escolha do elenco, o retorno da série, o fato de o protagonista original ter ficado de fora e a representatividade negra.
“O trabalho foi muito intenso. A gente mergulhou de verdade — toda a equipe, todo o elenco. O autor é o mesmo: Flávio de Sousa, criador da série original. Então, há um empenho enorme para manter a essência da história. Nossa expectativa é que o público abrace essa nova família, esses personagens antigos em novas versões, essa nova forma de revisitar o Mundo da Lua, esse universo do imaginário infantil. Porque, no fim, tudo pode acontecer”, diz o diretor artístico.
ISTOÉ: Como foi escolher o elenco dessa série, 33 anos depois?
João Daniel Tikhomiroff: Bom, aproveitamos alguns atores que já tinham feito aqueles personagens. Com outros não foi possível manter, então fomos atrás de um novo elenco que pudesse revisitar esses personagens 34 anos depois. E olha, eu te digo: não foi tão difícil, na verdade. Dei muita sorte, acho.
Primeiro, com o encontro da nova atriz que interpreta a Emília, a Sabrina. Você viu, né? Ela é um talento extraordinário! Depois, todos os que eu convidava para os papéis… Acho que a série tem um poder tão grande de persuasão, pela importância dela, que todo mundo aceitou.
Toda vez que eu sugeria alguém para a produtora de elenco, dizia: “Vamos tentar o Marcelo Serrado, por exemplo? Acho que ele seria um Lucas superinteressante.” Ele é um grande ator — e o Marcelo topou na hora!
E assim foi, inclusive nas participações especiais. Vamos ter surpresas ao longo da temporada, com atores e atrizes muito conhecidos. Todos aceitaram participar. Aliás, não só aceitaram… Às vezes eu nem terminava de explicar e já ouvia: “Não só aceito, como exijo participar! Não quero ficar de fora!”
Houve um frisson muito grande entre os artistas. Isso me deu tranquilidade e muita alegria. Claro que é um desafio enorme fazer uma temporada nova, com histórias novas, baseada numa série que foi icônica na teledramaturgia brasileira. Mas acho que estamos no caminho certo. Espero que o público se encante.
ISTOÉ: Sobre a polêmica envolvendo o protagonista original da série, Luciano Amaral, que não quis participar? Como foi isso?
João Daniel Tikhomiroff: Não sei dizer ao certo, porque essa parte inicial, de contato com os primeiros nomes, foi feita pela TV Cultura. Depois, recebemos um comunicado da emissora dizendo que o Luciano — que, inclusive, nem é ator, é apresentador — não participaria.
Ele fez o personagem quando era uma criança de 9 anos. Agora, precisávamos de um homem de mais de 40, que fosse ator mesmo, para segurar toda essa carga dramática. E ele não pôde participar. Achei uma pena — seria interessante, claro, tê-lo de volta —, mas não sabíamos como ele estaria para atuar hoje.
Aí fui atrás de alguém como o Marcelo Serrado. E é assim mesmo que funciona. Muitas séries fazem isso: mantêm os personagens, mas com outros atores. Um grande exemplo é A Grande Família, que teve uma nova versão com elenco totalmente diferente, mas os mesmos personagens.
Nos Estados Unidos, isso é comum: Família Addams, James Bond, Batman… Os atores mudam, mas os personagens continuam. É importante entender isso: não se deve confundir personagem com ator.
Agora, os que puderam estar presentes, que continuavam atuando e estavam dispostos a revisitar os personagens, esses ficaram. O Fagundes, por exemplo, agora virou o avô. A irmã, a filha… e os novos também, como a Bruna, que fez um papel maravilhoso como a esposa do Fagundes. Tudo isso agregou bastante.
ISTOÉ: Como você vê os remakes, que não têm sido muito bem aceitos? E voltar com essa série num momento assim?
João Daniel Tikhomiroff: Não é um remake. Ontem, até comentei isso numa entrevista. Remake é sempre delicado e difícil de fazer. Mas aqui não é o caso — é uma nova temporada, mais de 30 anos depois. É como aconteceu com Missão Impossível nos EUA: começou como uma série antiga, depois virou longa-metragem com outro ator no mesmo papel.
É bom você trazer isso, porque as pessoas confundem. Aqui temos os mesmos personagens vivendo outras histórias. Não é um remake, e isso ajuda muito. O que buscamos é o sentimento de nostalgia — aquela saudade boa de ver uma série icônica sendo revisitada.
Você escuta a mesma música de abertura, vê os mesmos personagens… mas com outro elenco e novas histórias. Isso tudo pode virar algo muito bonito. Missão Impossível, por exemplo, virou um dos maiores sucessos mundiais. Acredito que temos esse mesmo potencial aqui.
ISTOÉ: Fale sobre a representatividade em trazer duas mulheres negras na série.
João Daniel Tikhomiroff: Isso é uma das coisas mais positivas dessa nova temporada. Estamos atualizando o contexto. A história sempre foi muito cruel com a questão da diversidade e da inclusão, né? Então, nada mais natural que, 30 anos depois, essa família tenha crescido.
O Lucas agora é casado com uma mulher negra maravilhosa, e eles têm uma filha negra linda. E tudo isso é mostrado com muita harmonia, sem nenhum vestígio de preconceito. Isso é muito importante. A série está prestando um serviço ao trazer esse olhar mais inclusivo, mais multirracial.
Marcelo Serrado sobre o convite para interpretar o personagem Lucas: “Foi um convite do Michel, nosso diretor-geral. Fiquei muito feliz, porque eu era muito fã da série original! Agora a história continua, 30 anos depois… e estou supercontente por fazer parte desse projeto.”
Antônio Fagundes, que retorna à série após mais de 30 anos, contou como foi receber o convite para participar da nova versão da série, como ele vê o cenário artístico e as novelas atualmente, e o que o público pode esperar da nova fase de ‘Mundo da Lua’.
“Foi tão gostoso quanto da primeira vez. Quando recebi o convite pela primeira vez, fiquei muito feliz, porque nunca tinha feito dramaturgia para crianças — e gostei muito. Foi uma experiência maravilhosa. Eu já havia feito, na Cultura, um programa chamado É Proibido Colar; não era exatamente para crianças, era mais voltado para adolescentes, e já tinha sido uma experiência muito boa. Mundo da Lua foi a cereja do bolo e, agora, com a continuação, está sendo uma delícia — muito bom”, disse o ator.
Questionado sobre o que podemos esperar desta nova versão da série, Fagundes afirma: “No mínimo, uma reunião gostosa com a família para assistir a um programa divertido, leve e muito engraçado”.
A atriz Sabrina Souza, de 9 anos, falou sobre a experiência de protagonizar Emília, filha de Lucas Silva e Silva: “Eu nem preciso me esforçar muito para fazer a Emília, porque ela sou eu, e eu sou ela. Está sendo muito gratificante dar vida a essa personagem. Fazer parte de um projeto tão importante para a TV Cultura e para a cultura brasileira é uma honra. A série está incrível! Estou muito feliz e grata por tudo isso. É muito especial estar atuando ao lado de personagens e atores tão importantes para o nosso país. Sem palavras”, disse.
Sobre como está sendo atuar com grandes nomes, Sabrina rasgou elogios:
“Eles são incríveis e super generosos comigo. Sou muito fã deles. Desde o primeiro dia, me acolheram com carinho e têm sido pessoas muito especiais nessa jornada”, finaliza.
A atriz Pathy Dejesus, que interpreta Isabella Silva e Silva, a esposa de Lucas Silva e Silva, falou sobre estar no elenco da nova versão da série e sobre sua representatividade como mulher preta.
“Participar deste projeto é algo único. É um produto no qual temos plena consciência da responsabilidade envolvida. Nunca imaginei que, depois de mais de 30 anos, Mundo da Lua fosse ser resgatado. E acho que este é um momento muito oportuno. Falo agora como mãe: estamos precisando desse lugar que resgata uma infância quase inocente, sabe? Que mexe com a imaginação, que fala de coisas mais simples — mais do que telas, mais do que internet. Claro que não estamos defendendo uma utopia, mas acho que será interessante trazer de volta essa essência. E também esse hábito de a família se reunir para assistir junta. As pessoas que acompanharam lá atrás, com certeza, vão, no mínimo, ficar curiosas.”
Representatividade
“Falar de representatividade e trazer Mundo da Lua de volta, com essa responsabilidade entregue nas mãos de uma menina preta… isso é muito forte. Eu, como mãe da protagonista, me sinto defendendo esse lugar, esse espaço que precisa ser ocupado por mais histórias assim.
A gente precisa de mais”, destaca Pathy Dejesus.
“Meu sonho é que isso se torne algo natural, orgânico. Claro que existe um lado em mim que vibra e pensa: ‘Poxa, que lindo, que importante!’. Mas quero chegar ao momento em que isso não seja mais um diferencial, seja simplesmente mais um projeto com uma menina preta como protagonista”, completa.
Bárbara Bruno, que dará vida à personagem Carolina Silva, contou que está feliz da vida com o novo projeto. “Tô muito feliz, porque poder participar dessa série é um alento, é um prazer. A gente trabalha com muita responsabilidade, mas também com muito amor. Então, é muito gostoso quando conseguimos unir essas duas coisas: trabalho e afeto.
Essa série, há 33 anos, falou muito ao coração das gerações daquela época. Então, poder retomar isso agora, 33 anos depois, traz uma grande responsabilidade, mas também a chance de revisitar essas relações. E isso, pra mim, é o mais importante: as relações dessa família.
Eles estão sempre juntos, almoçando, convivendo com os filhos… E tem um hábito lindo, que é o “abração”, sabe? Estão sempre se abraçando e conversando olho no olho. Isso é importante. É uma retomada necessária”, continua.
A atriz ainda contou um pouco sobre sua personagem. “A Carolina é uma delícia de personagem. Ela é uma mulher otimista, preocupada com sua postura e posição na sociedade, mas sem nunca esquecer das relações humanas. Conviver com ela tem me dado muito prazer e um grande estímulo. Ela tem uma característica linda: nunca permite que as coisas se sobreponham às pessoas. A Carolina não abre mão da sua realidade, mas também não abre mão das suas relações.”