A gente não tem muito jeito para lidar com o infinito.

Segundo os neurocientistas nosso cérebro não processa bem o ilimitado.

Um divertido exemplo dessa nossa dificuldade é o Teorema do Macaco Infinito, criado pelo matemático Émile Borel no texto “Mécanique Statistique et Irréversibilité” de 1913.

Segundo o teorema, se um macaco batucar em uma máquina de escrever por tempo infinito, um dia poderá escrever a obra inteira de William Shakespeare.

Um macaco que escreve uma obra literária parece inconcebível.

Existem variantes do teorema.

Alguns preferem trocar a obra completa de Shakespeare por “apenas” um livro, mas convenhamos, não melhora muito nossa aceitação da afirmação como verdadeira.

Exatamente porque a chave do problema reside justamente no “tempo infinito”.

Segundo Borel, a possibilidade do tal macaco escrever apenas a palavra “Hamlet” é de uma em 19.928.148.895.209.409.152.340.197.376.

Seguindo essa mesma lógica, palavra por palavra de um romance, chegaremos a uma probabilidade inconcebível para nosso cérebro, porém não impossível. Borel criou até uma equação para provar a veracidade do enunciado. Coisa de matemático, que não ouso republicar, mas está lá, muito bem provadinho.

Essa nossa incapacidade de lidar com o infinito, explica porque é tão difícil para nós, meros símios evoluídos, entender a imensidão do Universo. A ideia de um Universo finito é muito mais fácil de aceitarmos.

Compreender a infinitude do espaço é uma dessas coisas que buscamos desde o início dos tempos.

Desde a época em que procurávamos desenhos nas estrelas do céu ou imaginávamos que a Terra era plana. Boa parte de nós já superou essa crença primitiva.

Sabemos, ao menos nós que não somos discípulos do guru do presidente, que a Terra é quase uma esfera e que gira ao redor do Sol. E que o Sol é apenas mais uma estrela.

Essa busca por uma explicação sobre o Universo, nos leva ao título deste artigo. Multiversos não são, ainda, uma teoria científica. São, na verdade, uma extrapolação de um monte de ideias que combinam conceitos da ficção científica com Cosmologia, Teoria da Relatividade e Física Quântica.

A tese dos Multiversos ganhou popularidade pela primeira vez após uma palestra do físico Erwin Schrödinger, aquele do gato, proferida em 1952.

Segundo a tese, vivemos em apenas um Universo de infinitos Universos possíveis.

Pense que vivemos em uma bolha de sabão flutuando pelo “nada”.

Além da nossa bolha, existiriam infinitas outras, onde todas as possibilidades de combinações seriam possíveis, como no caso do macaco infinito, percebe?

Assim, cada decisão que você, caro leitor, ficou na dúvida de tomar ao longo de sua vida, num desses infinitos universos, numa dessas bolhas, foi tomada e teve suas consequências.

Existe, portanto, flutuando na imensidão, um Universo onde você não casou com sua mulher, mas com qualquer outra, ou todas, as mulheres do planeta. Teve um, dois, três, milhões de filhos.

Numa bolha qualquer, num desses Universos Paralelos, você é um bilionário grego.

Em outra, um cigano e em mais uma, um morador de rua em Paris. Difícil aceitar, não é mesmo?

Mas está lá. Na mesa dos físicos que brincam de fazer cócegas no nosso cérebro.

Então, caro leitor, a próxima vez que você olhar para o céu, numa noite cheia de estrelas, questionando como é que viemos parar aqui, pense nisso.

Você e eu somos apenas dois azarados.

Viemos cair justamente na bolha em que o presidente é o Bolsonaro no meio da maior pandemia do século.

Em algum lugar, na imensidão dos Multiversos, tudo vai bem.

Temos um ministro da Saúde especialista, não batemos recordes de mortes e a economia vai de vento em popa.

Quem sabe até, nesse universo, Shakespeare é aquele macaco.

Segundo o teorema, se um macaco batucar em uma máquina de escrever por tempo infinito, um dia poderá escrever a obra inteira de William Shakespeare