Milhares de ativistas pró-democracia saíram às ruas de Hong Kong, neste domingo (8), para participar de uma manifestação que coincidiu com os seis meses do início de seus protestos e dar às autoridades uma “última chance” de atender às suas reivindicações.

“Há 800 mil pessoas participando do protesto”, relatou Eric Lai, da Frente Cívica para os Direitos Humanos, ao anoitecer deste domingo, quando ainda havia milhares de manifestantes nas ruas.

A polícia, que tradicionalmente divulga números baixos deste tipo de manifestação, disse à imprensa que cerca de 183 mil pessoas compareceram à passeata. Trata-se de sua estimativa mais elevada em meses.

Desde junho, a ex-colônia britânica se encontra mergulhada em sua pior crise desde sua devolução para Pequim em 1997. A cidade vem sendo tomada por manifestações quase diárias para exigir reformas democráticas, assim como uma investigação imparcial da atuação da polícia durante os protestos.

– “Última chance” –

“Não importa como expressamos nossas opiniões: manifestação pacífica, eleições… O governo não quer ouvir”, disse um manifestante de 50 anos que se identificou como Wong.

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“O que abalou a sociedade durante esses meses não vai desaparecer, enquanto o governo se recusar a resolver essa injustiça sistemática”, acrescentou Sirius Tam, de 21.

A polícia de Hong Kong autorizou essa manifestação, organizada pela Frente Cívica para os Direitos Humanos em toda ilha, algo que não ocorria desde meados de agosto.

“É a última chance que o povo dá a [Carrie] Lam”, declarou na sexta-feira Jimmy Sham, um dos responsáveis pela Frente.

O protesto deste domingo coincidiu com a véspera do aniversário de seis meses de mobilização, que começou com uma grande manifestação em 9 de junho. O gatilho inicial foi a rejeição a um projeto de lei para facilitar as extradições para a China. O texto acabou sendo retirado de pauta. Desde essa data, cerca de 6.000 pessoas foram presas e centenas feridas, segundo a polícia.

Os manifestantes estão convocando pelas redes sociais um bloqueio do transporte público para esta segunda-feira, a data exata do aniversário, caso as autoridades locais não atendam às suas demandas.

– Nenhum sinal de mudança –

Para os manifestantes, não houve qualquer sinal de mudança de atitude por parte do governo local. Desde as eleições, Carrie Lam, cuja taxa de apoio entre a população está em níveis historicamente baixos, não fez concessões ao lado da pró-democracia.

A reputação da polícia também foi seriamente danificada.

Segundo uma pesquisa publicada na sexta-feira pelo Programa de Opinião Pública, as forças de segurança registraram um índice recorde de rejeição. Pelo menos 40% dos entrevistados atribuíram a nota mais baixa, ou seja, zero, à polícia.


O novo chefe da polícia da cidade, Chris Tang, parece determinado a manter a linha de seu antecessor. Rejeitou o pedido de investigação independente e alertou que a polícia reprimiria qualquer ato violento na manifestação deste domingo.

A polícia relatou que duas facas e uma pistola foram apreendidas, e 11 pessoas, detidas, neste domingo, em Hong Kong.

“Achamos que havia um grupo que queria provocar o caos durante o protesto (…) e atacar a polícia”, afirmou o delegado Lee Kwai-Wa, do escritório de combate ao crime organizado.


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