Vai viajar sozinha? Vai viajar de novo?

Vai deixar o marido sozinho? Cuidado.

Vai deixar os filhos com quem?

Troca essa roupa que está chamando a atenção demais.

Você que dirige esse carro?

Mas mulher troca pneu?

Mulher no volante, perigo constante.

A única coisa que mulher sabe pilotar bem é fogão.

Mais respeito, por favor. Somos uma sociedade marcada por normas culturais e expectativas de gênero arraigadas, e a decisão de uma mulher de viajar sozinha enfrenta um terreno fértil de preconceitos e estereótipos. Desde o pressuposto de que as mulheres são mais vulneráveis ​​a situações perigosas até a crença de que sua independência é uma afronta aos papéis tradicionais de gênero, o ato de viajar sozinha como mulher muitas vezes é recebido com desconfiança e julgamento por partes da sociedade.

Esses preconceitos, muitas vezes enraizados em ideias ultrapassadas sobre o que é considerado apropriado ou seguro para as mulheres, criam barreiras adicionais para nós que desejamos explorar o mundo por conta própria. Não queremos flores. Queremos o direito de ir e vir com segurança e respeito. As flores soam sim como uma forma de manutenção do patriarcado. Um cala a boca fofo para esquecermos (como se adiantasse) das frases diárias que são, quase sempre, soco no estômago.

“Mulheres não deveriam viajar sozinhas, é perigoso demais para elas.”

A frase reflete uma realidade legítima das mulheres em um mundo onde o assédio e a violência de gênero são comuns. Não nos dêem flores se você as culpa pelas ações de outros. Ao invés disso, preferimos ambientes seguros e que responsabilizem aqueles que perpetuam a violência. E parem de nos desencorajar a explorar o mundo.

“A irresponsável que abandona o marido e os filhos por capricho.”

Alô, Alô. Somos indivíduos completos e com necessidades, sonhos e carreiras próprias, além das de nossos filhos (e maridos). Não nos dêem flores se você não entender isso. Tudo que mais queremos é o privilégio de viver experiências e crescimento pessoal que sejam exemplos para que nossos filhos possam seguir seus próprios sonhos e cuidar de si mesmos. Parem de nos julgar “desnaturadas”.

“Troca essa roupa que está chamando a atenção demais.”

O clássico do culpar a vestimenta de uma mulher por atrair atenção. Não nos dêem flores se você restringe a liberdade de expressão das mulheres. Culpe aqueles que perpetuam comportamentos inadequados e desrespeitosos. O corpo de uma mulher não é uma distração ou um convite para o assédio e sim uma parte de quem ela é, e temos o direito de se sentir confortável e confiante em nossa própria pele.

Mulher no volante, perigo constante”

Uma frase de muitas camadas. Afinal o que é o machismo se não o medo da independência e autonomia das mulheres. Uma mulher que “dirige” e é independente desafia as normas tradicionais de gênero e representa uma ameaça. Quando afirmamos a independência e dominamos uma habilidade considerada “masculina”, há um desafio às estruturas de poder patriarcais que historicamente mantiveram as mulheres em um papel subordinado.