Mulheres que amamentam podem ter sintomas semelhantes aos da menopausa

Mulheres que estão amamentando podem apresentar sinais muito parecidos com os da menopausa, como secura vaginal, atrofia dos tecidos e dor na relação sexual. A conclusão é de uma revisão sistemática publicada na revista científica Obstetrics & Gynecology, que analisou 65 estudos e mostrou que mais da metade (53,6%) das lactantes apresenta secura vaginal e quase dois terços desenvolvem atrofia vaginal (63,9%).

A condição foi chamada de síndrome geniturinária da lactação. Segundo os autores, essas manifestações estão diretamente relacionadas à queda dos níveis de estrogênio durante a amamentação. Esse hormônio, fundamental para manter a lubrificação e a elasticidade vaginal, permanece em baixa concentração enquanto a mulher produz prolactina, o hormônio responsável pela produção do leite materno.

Apesar da frequência elevada identificada na pesquisa, a síndrome ainda é pouco reconhecida e raramente identificada durante as consultas de pós-parto. Isso porque grande parte das mulheres não associa os sintomas à amamentação e tende a normalizar a dor, o desconforto e a falta de desejo sexual, acreditando que fazem parte do processo de maternar.

Além disso, o acompanhamento pós-parto costuma focar no bebê e em questões como aleitamento, vacinação e depressão pós-parto, mas não na saúde sexual da mãe. “Não existe uma triagem sistemática desses sintomas. Em geral, eles só aparecem quando a mulher traz a queixa espontaneamente ou quando são investigados em pesquisas. Se a paciente não falar, muitas vezes passa despercebido”, afirma o ginecologista e obstetra Rômulo Negrini, coordenador médico materno-infantil do Einstein Hospital Israelita.

A presença de sintomas como dor, secura e atrofia não afeta apenas a vida sexual, mas também o bem-estar emocional e a rotina diária da mulher. Segundo Negrini, esses sintomas impactam o desejo, a frequência e a satisfação sexual.

“Muito embora o estudo não se concentre primariamente nos impactos emocionais qualitativos, é razoável inferir que dor e desconforto podem gerar frustração, vergonha, diminuição da autoestima, dificuldades no relacionamento conjugal e até sensação de isolamento. A dor é um limitador importante da vida cotidiana e pode, inclusive, interferir no cuidado com o bebê”, destaca o especialista.

De acordo com os resultados da investigação, três meses após o parto, 60% das mulheres relataram dor durante a relação sexual. Esse número cai para 40% em seis meses e para 28% em um ano. Além disso, quase três em cada quatro mulheres apresentaram algum grau de disfunção sexual, medida por meio do Índice de Função Sexual Feminina (IFSFI), um questionário que avalia aspectos como desejo, excitação, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor. Quanto maior for a pontuação, melhor a função sexual.

Tratamento sem prejuízo ao aleitamento

Embora ainda faltem diretrizes específicas para o manejo da síndrome, Negrini ressalta que há alternativas seguras para aliviar os sintomas sem prejudicar a amamentação. “O tratamento pode começar com medidas não hormonais, como lubrificantes no momento da relação, hidratantes vaginais de uso contínuo, ajustes comportamentais e até fisioterapia pélvica. Em casos selecionados, podemos recorrer a tratamentos hormonais locais, sempre com cautela e acompanhamento médico”, explica. “É fundamental mostrar à mulher que ela não precisa sofrer, pois existem recursos disponíveis.”

Outro desafio é o tabu em torno do tema. Estima-se que até 70% das mulheres não procuram ajuda para lidar com os sintomas. “Cabe ao ginecologista perguntar sobre a saúde sexual e criar um ambiente de confiança para que a mulher se sinta à vontade em falar. Além disso, precisamos preparar toda a equipe de saúde, que inclui médicos, enfermeiras, fisioterapeutas e consultores de amamentação, para reconhecer que esses sintomas são comuns e tratáveis, sem estigmatizar nem minimizar as queixas”, destaca o ginecologista.

Para ele, também seria importante investir em ações educativas voltadas para gestantes e puérperas. “Folhetos, vídeos, grupos de mães e workshops podem orientar sobre as mudanças hormonais, o que esperar durante a amamentação e como buscar ajuda. Informação é fundamental”, diz.

O reconhecimento da síndrome também pode contribuir para repensar o modelo de acompanhamento no puerpério. “Quando se dá nome a um conjunto de sintomas, legitimamos sua existência. Isso facilita o diagnóstico, a comunicação entre profissionais e pacientes, a elaboração de pesquisas e até a criação de diretrizes de tratamento. Além de melhorar o cuidado individual, o reconhecimento pode ter impacto em políticas de saúde e na qualidade de vida de milhares de mulheres”, conclui.

Fonte: Agência Einstein

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