A primeira programadora do mundo foi uma mulher, Ada Lovelace. A americana Grace Hopper, nos anos 1950, foi uma das criadoras da pioneira linguagem de código Cobol e ajudou a criar o termo “bug”. Mesmo assim, só 24% dos cientistas da computação no mundo são mulheres. “Isso não faz sentido: a tecnologia está mais presente na nossa rotina e nós, mulheres, queremos mudar a realidade”, afirma a advogada americana Reshma Saujani, uma das principais ativistas do mundo pela redução da desigualdade de gênero no setor de tecnologia.

Desde 2012, Reshma é a presidente executiva da organização sem fins lucrativos Girls Who Code (mulheres que programam, em inglês). A ONG ensina programação para meninas e mulheres nos EUA – com programas espalhados pelo país, a instituição já mudou a vida de 185 mil pessoas.

Para a advogada, a disparidade de gênero no setor tem diversas razões, desde a infância. “As Barbies transmitem a ideia de que matemática é chato e fazer compras no shopping é legal. As meninas acabam desistindo antes de tentar”, disse ela ao Estado, em entrevista realizada durante a última Bienal do Livro do Rio de Janeiro, onde esteve para lançar seu livro Corajosa Sim, Perfeita Não – uma tese de que o perfeccionismo imposto às mulheres, desde cedo, é um obstáculo para seu sucesso no mercado de trabalho.

Por que há tão poucas mulheres na ciência da computação?

É uma questão de cultura. Se uma menina ligar a TV e assistir a um programa sobre engenheiros e cientistas da computação, verá homens. Com isso, estamos dizendo para as mulheres que essa indústria não é para elas – e elas estão escutando. Há ainda o sentimento de que programação é muito difícil e é preciso ser um “nerd” para ser bom na área. Não é verdade. Ensinamos as meninas a não desistir antes de tentar.

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Como a ONG ajuda meninas a começar a programar?

Temos programas tanto para meninas que ainda estão na escola como para mulheres que já saíram dela. Uma das atividades da ONG é um curso de verão imersivo de duas semanas com aulas de programação para garotas entre 10 e 18 anos em várias cidades dos Estados Unidos, como Nova York, Boston e Seattle. Queremos despertar nas meninas o interesse pela ciência da computação, para elas considerarem a área como uma possível faculdade e uma carreira a ser seguida.

O que o setor de tecnologia ganha trazendo para o mercado cientistas da computação mulheres?

Se for perguntado para uma garota o que ela quer fazer quando crescer, provavelmente ela vai dizer que quer resolver algum problema complexo. Algo relacionado à educação, à mudança climática e até à cura do câncer. A presença de mulheres nesse setor pode conectar muitas tecnologias a transformações reais. Mas as empresas precisam ser receptivas às mulheres. Isso não envolve só a admissão, mas também dar o espaço para elas poderem ser promovidas. Não faz sentido contratar mulheres e fazer com que elas saiam da indústria um tempo depois.

O seu livro diz que o perfeccionismo está sufocando as mulheres no mercado de trabalho. Por que ele é um problema?

Escrevi o livro com base em conversas que tive com outras mulheres e também a partir de experiências com as meninas participantes dos programas da Girls Who Code. Muitas mulheres nem sequer tentam começar a programar porque acreditam que não são boas o suficiente. Até mesmo quando estão programando, não confiam no seu trabalho.

E de onde vem isso?


Desde crianças, elas são ensinadas a serem educadas e a não se machucarem, enquanto os meninos são incentivados a se sujar e a escalar brinquedos. Eles são ensinados a serem corajosos; elas, a serem perfeitas. Isso faz com que as mulheres tenham medo de falhar. É comum uma mulher não se candidatar para uma vaga de emprego porque não se sente qualificada para isso – mesmo quando ela é qualificada de fato.

Que conselho dá para uma menina do Brasil que quer aprender a programar?

Vá em frente, o mundo está esperando por você.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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