EMOÇÃO Janja resgatou o jingle “Lula lá”, da eleição de 1989 (Crédito:Ricardo Stuckert)

Está cada vez mais claro que as mulheres decidirão a eleição. Os homens aceitam o machismo doentio de Jair Bolsonaro, mas elas não — e prometem cobrar a fatura dos desatinos presidenciais. Ele tenta de tudo para conquistar seus votos, mas, nas últimas semanas, embora tenha reduzido a vantagem de Lula em algumas pesquisas, Bolsonaro não conseguiu superar a alta rejeição feminina entre jovens, senhoras ou em qualquer faixa etária. A misoginia bolsonarista é considerada na escolha das eleitoras e isso já acendeu o alerta dos estrategistas de campanha, que vêm um perigo crescente da disputa ser realmente decidida por esse público. Para tentar superar a dificuldade, Bolsonaro liberou a primeira-dama Michelle para entrar com afinco na campanha, tentando atrair votos entre as mulheres. Lula também terá em Janja, com quem namora há quatro anos e se casará na quarta-feira, 18, um importante cabo eleitoral.

Em pesquisa XP/Ipespe, divulgada sexta-feira, 5, a vantagem geral de Lula sobre Bolsonaro nas intenções de voto era de 44% a 31%. Entre as mulheres, porém, a diferença favorável ao petista salta para 47% a 25%. Outra pesquisa, a da CNT/MDA, divulgada terça-feira, 10, mostra que enquanto os dois candidatos estão praticamente empatados entre os homens — 38,2% para Bolsonaro e 37,7% para Lula, entre as mulheres o petista vence com folga de 43,5% a 25,9%. Nos próximos meses, os dois candidatos vão disputar esse eleitorado palmo a palmo, tentando reverter a tendência inicial. Está claro também que as namoradas e esposas chegam para trazer emoção e sentimento à campanha, hoje impulsionada pela cultura do ódio.

Bolsonaro tenta estabelecer uma agenda feminina para se contrapor à brutalidade de seu governo, buscando cativar inclusive as mulheres evangélicas e as mais pobres. No Dia das Mães, a primeira-dama Michelle Bolsonaro fez um pronunciamento na TV ao lado da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Cristiane Rodrigues Britto, substituta de Damares Alves. Michelle falou de programas sociais orientados para cidadãs, como o Auxílio Brasil, que assim como o Bolsa Família privilegia a mulher no recebimento do benefício, e mandou mensagens para mães indígenas e quilombolas, grupos sociais que seu marido costuma criticar.

Em março, Michelle discursou no lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro e, alguns dias antes, participou de um evento do Partido Republicanos, que integra a base de apoio do governo. Na estratégia de campanha está previsto que a primeira-dama tenha presença frequente em eventos religiosos e viaje pelo País. Em um culto da bancada evangélica na Câmara, semana passada, durante a pregação do pastor Josué Valandro, da Igreja Batista Atitude, Michelle se emocionou, ajoelhou no chão e começou a rezar. “Pai, estenda suas mãos para a nossa amada Nação. Nós cremos numa geração santa, curada e restaurada pelo sangue de Jesus”, disse.

RELIGIÃO A ministra Cristiane Brito e Michelle: esforço para atrair evangélicas (Crédito:Divulgação)

Já Lula, na disputa pelo voto feminino, tem um trunfo, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, com que se casa neste semana e também está trazendo um apelo mais emocional para a disputa política. Janja está engajada na campanha e provou que é um cabo eleitoral de peso ao lançar uma regravação com vários artistas do jingle “Lula lá”, de 1989. Para Lula, a esposa, que tem um discurso afiado e funciona como um importante fator de rejuvenescimento para o ex-presidente. Ele declarou, por exemplo, estar “apaixonado como se tivesse 20 anos”. “Vou casar da forma mais tranquila possível e fazer a campanha feliz”, disse. Janja tem 55 anos e é 21 anos mais nova do que Lula. Sua função será ajudar o marido a manter a boa posição entre o público feminino.

As pesquisas deixam evidente que a rejeição feminina à Bolsonaro aumentou durante a pandemia, por sua atitude desleixada em relação à morte de centenas de milhares de brasileiros. A situação mostrou que as eleitoras sentem aversão pelo seu comportamento desalmado, já percebido há muito tempo. Nas eleições de 2018, as mulheres fizeram a hashtag #elenão para tentar impedir sua vitória. Mas não foram bem sucedidas. Agora, depois de quatro anos de governo, ficou ainda mais evidente que Bolsonaro governa para os homens e despreza a condição feminina.