É como se um quebra-cabeças complexo de ética, necessidades empresariais e relações humanas se desdobrasse diante de nossos olhos. Um desses enigmas é a prática das empresas de demitir funcionários através do layoff, apenas para abrir novamente vagas para as mesmas posições.

A origem do termo layoff remonta ao século 19, nos Estados Unidos, onde foi inicialmente usado na indústria têxtil, quando a demanda dos produtos estava baixa e os trabalhadores foram afastados de forma temporária. Com o tempo, o conceito se expandiu para outras indústrias e contextos econômicos. No Brasil o termo ficou mais popular em startups da área de tecnologia, que demitiram em massa seus colaboradores a partir de 2022.

No Linkedin existe uma página chamada “Layoffs Brasil”, hoje com quase 70 mil seguidores. Só nos dois primeiros meses de 2023, mais de 50 empresas, a maioria de tecnologia, anunciaram demissões segundo esta plataforma. Entre essas empresas estariam Google, Nubank, C6 Bank, Loggi e Enjoei.

Imagine uma cena na qual os escritórios, que antes reverberavam com a energia dos passos apressados dos colaboradores, agora ecoam no vazio. As mesas outrora repletas de projetos estão silenciosas, como um palco sem atores. É nesse contexto que as empresas estão tomando a decisão de recorrer ao layoff.

O que poderia ser visto como um ato de autopreservação para algumas empresas se transforma em um dilema moral quando, quase como em um truque de mágica, as vagas que foram deixadas vazias devido ao layoff vão sendo novamente preenchidas por outras pessoas. A sensação de injustiça permeia o ar, como uma névoa que ofusca a transparência nas relações entre empregadores e empregados.

Será que é justo demitir funcionários que, muitas vezes, dedicaram anos de suas vidas à empresa, apenas para depois abrir as portas a novos candidatos para as mesmas posições? Essa prática, que aparentemente põe em segundo plano a lealdade e os esforços dos colaboradores antigos, deixa um gosto amargo na boca daqueles que observam essa dança de contradições.

A saga de layoff e recontratações desafia nossos valores fundamentais de ética nos negócios. Abre uma janela para o debate sobre como equilibrar as necessidades das empresas com o respeito pelos indivíduos que as sustentam. É um lembrete de que, por trás das fachadas de aço e vidro das corporações, estão pessoas com sonhos, esperanças e famílias para sustentar.

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.