Se você chega em casa cansado, nem pense em sentar no sofá, ou se está naquele dia desanimado, fique longe da poltrona ou da cama —parece que nesses artefatos sedutores existem um imã, que puxam a gente, e deles não conseguimos nos desgrudar. É verdade, não acontece só com você.

Estava atendendo um paciente que chegou com diversas queixas, como desânimo e dores crônicas. Comecei a perguntar sobre sua vida e hábitos. Era um adulto muito saudável, com 45 anos, que havia se aposentado por invalidez, por conta de um acidente de trabalho – nada que impossibilitasse suas atividades, lhe deixou apenas uma cicatriz no braço. Mas o que aconteceu? Começou a ter uma vida de um senhor de 90 anos (e hoje em dia tem senhores que são bem mais ativos que o meu paciente da época). 

Ele vivia sentado no sofá, não fazia nada senão assistir TV e, quanto mais sentado ficava, mais preguiça e desmotivação tinha para fazer qualquer coisa, mesmo porque, na cabeça dele, podia sempre deixar para o outro dia. Entende como é um ciclo? Com ele trabalhei de forma a conseguimos romper esse ciclo e sair dessa rotina.

Trago esse exemplo para que fique tranquilo, e entenda que esse processo é natural e inerente a todo ser humano. Nós somos “fisiologicamente preguiçosos”. Mas calma! Isso não é um problema e muito menos uma justificativa, e sim uma habilidade do nosso organismo para sempre ser econômico e trabalhar com o mínimo de energia possível.

Toda nossa relação é totalmente primitiva e ligada aos nossos ancestrais. Imagine que, na época das cavernas, muitas vezes as pessoas ficavam dias e dias sem conseguir um alimento e, por isso, o organismo desenvolveu mecanismos de poupar energia para momentos de emergência.

Gosto sempre de contextualizar o que digo trazendo estudos científicos e, nesse caso, foi publicada uma pesquisa na Universidade de British Columbia, onde voluntários foram recrutados para realizar exercício de intensidade leve, em esteira, para que fossem analisados quantos passos cada um dava por minuto. Quando estabeleceram essa frequência, os cientistas aumentavam e diminuíam a velocidade e, novamente, analisavam o ritmo dos passos em resposta ao estímulo.

Quando mudavam esse estímulo para um esforço um pouco maior, o organismo, inconscientemente, queria ajustar esse esforço de uma forma que ficasse mais “fácil”. Nesse ajuste de intensidade, ocorreram várias alterações fisiológicas, como mudanças na concentração de oxigênio, nas células musculares etc. 

Com essas alterações, o corpo “nota” que, a esta nova velocidade, o seu esforço não é o ideal e você está tomando medidas muito pequenas ou usando o mínimo possível de energia. Aqui você tem que romper a barreira do mínimo e fazer o seu corpo ajustar o esforço.

O que os estudiosos tiram de conclusões é que, como esses ajustes a estímulos ocorrem quase que imediatamente, nosso cérebro pode conter um armazenamento de intensidades e até ritmo, tornando-se fisiologicamente eficiente a estímulos diferentes. É fato que temos uma facilidade de aprender e lembrar e isso não é diferente quando se trata de estímulos. Assim, podemos sugerir também que o cérebro reconhece o movimento envolvendo mensagens dos nossos sentidos.

 

Dito isto, veja dicas para romper o platô:

  • Saia do sofá. Sim, todo mundo fala isso, mas quero que você interprete de forma diferente. Saia mesmo do sofá e fuja dele. Veja o sofá como um momento de descanso, de pausa, descontração; mas não como um refúgio e um selo da sua vida. Por isso, se ainda tiver que cumprir seu treino do dia, chegue em casa e já coloque a roupa. Não dê aquela sentadinha – senão já viu, né? Rompa o ciclo. Mude a rotina.
  • Opte por treinar pela manhã. Se você fica muito cansado quando volta do trabalho, o melhor a fazer é treinar no primeiro horário do seu dia. Assim você não terá desculpas ou obstáculos a enfrentar depois.
  • Uma excelente descoberta do estudo que cito aqui foi como a música e o ritmo da batida são eficientes para estimular o seu corpo. A música é capaz de afetar a cadência da corrida ou da caminhada, especialmente se você está tentando manter um padrão no qual ainda não se familiarizou.
  • Parece uma coisa besta, mas tente. Palavras ou frases positivas como “eu posso”, “eu consigo”, “eu sou capaz”, quando repetidas diversas vezes, auxiliarão a recuperar a sua força de vontade no início dessa sua “briga” interna na corrida. Quando repete essas palavras positivas, você ativa uma região do lobo frontal do seu cérebro que “bloqueia” pensamentos negativos e de desistência do seu subconsciente.

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.