Quando o mercado de trabalho feminino ainda era muito limitado, nos séculos 18 e 19, em países mais desenvolvidos como Inglaterra e Estados Unidos, as mulheres se reuniam nos famosos chás das cinco, realizados em salas de estar ou salões. Esses eventos eram frequentados por mulheres de classe alta, vestidas com suas melhores roupas e joias, que aproveitavam o encontro para compartilhar informações sobre moda, arte, política e cultura.

Naquela época as poucas oportunidades profissionais, disponíveis para mulheres, situavam-se em áreas como costura, bordado, ensino e trabalho doméstico, onde as mulheres eram vistas como tendo habilidades naturais. As de classe alta também podiam trabalhar como escritoras, musicistas ou pintoras, mas isso era considerado um passatempo e não uma profissão.

She Talks - painel sobre liderança feminina na tecnologia e startups
SHETALKS com Fayda & Rogério Schietti (Crédito:SHETALKS)

Em pleno século 21, as mulheres continuam enfrentando muitos desafios. Mesmo com mais acesso à educação e à informação do que nunca, a grande maioria ainda sente na pele as desigualdades e discriminações de gênero.

Sou privilegiada por conviver com mulheres que tem voz e representação em diferentes setores da sociedade. Elas transformaram o famoso chá das cinco em um encontro de lideranças femininas, que trabalham juntas para impulsionar suas carreiras, empreender em suas FemTechs, empresas que desenvolvem tecnologias que visam melhorar a saúde e o bem-estar das mulheres, e pode incluir dispositivos, aplicativos, softwares, vestuário e outros produtos que são projetados especificamente para atender às necessidades das mulheres.

Promover a diversidade e a inclusão em todos os espaços, incluindo na política, defender políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e combatam a violência e a discriminação, agora é propósito!

 

Os homens da Madison Avenue

Toda semana eu recebo, no mínimo, dois convites para eventos produzidos por mulheres e para mulheres. Os homens também são convidados, pois a maioria dos cargos de liderança, em empresas públicas, privadas ou ongs são ocupados por eles. E se queremos avançar, temos que dialogar com quem influencia, planeja e executa políticas públicas.

Participando de um desses encontros, ouvindo a Dra. Izabella Borges, advogada criminalista, especialista em Direito Penal Econômico e ativista da causa feminina, falar sobre assédio moral e assédio sexual, eu me lembrei de Mad Men, aquela série de televisão norte-americana que aborda temas como a cultura corporativa, feminismo, racismo e questões sociais da época.

Lançada em 2007, Mad Men retrata o ambiente corporativo do final da década de 1950 e início dos anos 1960, época em que as mulheres enfrentavam muitos obstáculos na carreira, pois a maioria dos cargos de liderança  e alta remuneração eram ocupadas por homens. Elas recebiam salários menores do que os homens para realizar as mesmas funções, e eram frequentemente estereotipadas em papéis de secretárias ou recepcionistas. As que lutavam contra essa situação eram consideradas como “difíceis” ou “emotivas”. O machismo era amplamente praticado e considerado normal no ambiente de trabalho.

Apesar de ser uma obra de ficção, a série serve como um lembrete das desigualdades de gênero que nós continuamos enfrentando em nossas vidas profissionais. Ainda há muito a ser feito, mas hoje em dia existem mais oportunidades para conscientização sobre a importância da igualdade de gênero.

 

As mudanças que queremos ver

Segundo a ONU Mulheres, serão necessários cerca de 300 anos para alcançar a igualdade entre homens e mulheres. Esse número assustador foi apresentado pelo secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, em março de 2023.

SHETALKS com Fayda & Rogério Schietti
Fabíola Sucasas, Cris Guterres, Eunice Prudente, Pamela Vaiano, Glenda Moreira, Núbia Lentz (Crédito:SHETALKS)

Se no Brasil a questão ainda é alarmante, imagina em países como Afeganistão, Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Paquistão, Sudão, Síria, Somália, Nigéria, República Democrática do Congo, onde os direitos das mulheres são ainda mais precários. A violência de gênero contra mulheres é um problema global que afeta milhões em todo o mundo, e vai da violência doméstica até o assédio e a violência sexual em conflitos armados.

Para alcançar um mundo sem violência de gênero, sem discriminação e sem machismo, é necessário um compromisso global para promover a igualdade de gênero em todas as áreas da sociedade. Isso inclui o fortalecimento das leis e políticas para proteger os direitos das mulheres, a promoção de educação e conscientização sobre questões de gênero, a criação de oportunidades iguais, e a promoção de uma cultura de respeito e igualdade em todas as áreas da vida.

Além disso, é importante que homens e mulheres trabalhem juntos para promover a igualdade de gênero e combater o machismo. Isso pode incluir a criação de alianças entre homens e mulheres para enfrentar esses problemas, gerando modelos positivos de masculinidade que valorizem a igualdade e o respeito pelas mulheres.

 

Quem nos inspira? Audre Lord!

“Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas”. Audre Lorde (1934-1992),  figura importante no movimento feminista e nos movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos, ainda é uma inspiração para muitas pessoas que lutam pelos direitos humanos e a igualdade de gênero em todo o mundo.

Escritora prolífica, poetisa e ativista, Audre trabalhou incansavelmente para promover a igualdade de gênero e de raça. Foi uma das primeiras teóricas a formular o conceito de interseccionalidade, que reconhece que as pessoas enfrentam múltiplas formas de opressão e discriminação, como resultado de sua identidade de gênero, raça, orientação sexual e outras características.

Lorde era uma defensora fervorosa do autocuidado das mulheres, especialmente das mulheres negras, reconhecendo que a luta contra a opressão pode ser emocional e fisicamente exaustiva. Ela acreditava ser  fundamental para as mulheres se conectarem e se apoiarem mutuamente, compartilhando suas histórias e experiências, a fim de superar a opressão e construir um mundo mais justo e igualitário.

 

Sororidade na prática

Mulheres bem-sucedidas profissionalmente, que alcançaram reconhecimento e realização na vida pessoal e profissional, servem igualmente de inspiração para outras mulheres que buscam alcançar seus objetivos, enfrentando e superando barreiras estruturais e preconceitos associados ao gênero no mercado de trabalho.

Fabíola Zuanon, Fayda Belo e Cris Guterres
Fabíola Zuanon, Fayda Belo e Cris Guterres (Crédito:SHETALKS)

Praticar sororidade significa tratar todas as mulheres como irmãs, apoiando-as na sua luta por direitos, enfrentando os mesmos desafios e buscando soluções em conjunto. É uma forma de fortalecer o movimento feminista e promover uma cultura de união, em que mulheres se fortaleçam mutuamente e lutem juntas por um mundo mais justo e igualitário para todas.

Escolha o seu grupo de mulheres – e comece a fazer parte da construção de um mundo mais igualitário, diverso, inclusivo e justo!

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.