Algumas profissionais do sexo de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, tiveram que mudar a sua forma de atendimento depois que três pessoas – uma mulher cisgênero (pessoa que se identifica com o gênero biológico) e duas transexuais – foram mortas em abril e dezembro deste ano. Bianka Áquilla Polatto foi uma delas, agora só atende com horário e local marcados por ela. As informações são do G1.

Uma das vítimas fatais era sua amiga Milena Massafera, de 34 anos, que foi encontrada morta a facadas dentro do apartamento em que morava na Vila Tibério. O caso ocorreu em 10 de abril e continua sendo investigado pela polícia.

“Muito (medo), literalmente. A gente trabalha na incerteza de saber se vai acordar vivo no dia seguinte. A gente sabe que vai, mas não sabe se vai voltar com vida. Ela não vai ser a primeira e nem vai ser a última a ser morta. Muitas vão morrer ainda para que possa fazer alguma coisa”, disse Bianka.

“Eu fiquei muito chocada, porque era uma pessoa que não fazia mal a ninguém. Eu a conhecia e ela não fazia nada a ninguém. Era uma pessoa maravilhosa, a gente ficou sem entender por que aconteceu isso com ela”, completou.

Outros casos

No dia 9 de abril, Márcia Marcita, de 42 anos, foi encontrada morta por uma amiga dentro de sua casa no bairro Parque Avelino Palma. A amiga foi até a residência em busca de notícias de Márcia, que durante nove dias não respondia as mensagens enviadas. O seu corpo continha marcas de violência.

O último caso foi o de Rafaela de Jesus Moraes, 33. A Polícia Civil localizou a sua ossada em um canavial no dia 13 de dezembro. Segundo o delegado Rodolfo Latif Sebba, ela foi torturada antes de ser morta.

“Foram encontradas cordas nesse corpo, provavelmente utilizadas para amarrar a vítima. Também foi constatada a fratura de alguns ossos. São ossos importantes e tudo indica que foram quebrados enquanto ela ainda estava em vida. Também foi possível perceber a carbonização de partes do corpo”, disse.

Mesmo que as três profissionais do sexo terem sido assassinadas, o delegado descarta a possibilidade de que o crime tenha sido cometido pela mesma pessoa.

“Não existe nenhuma relação com os outros crimes ocorridos no mês de abril. Eles ainda estão em aberto. A gente está avançando nas investigações, há linhas distintas de trabalho. São situações totalmente isoladas.”

Para Bianka, as profissionais do sexo só terão tranquilidade para oferecer os seus serviços quando houver leis que as protejam.

“Eles (autoridades) não dão prioridade para a gente, eles dão prioridade ao hétero. Para nós, que somos mulheres trans, está dito e feito. O que aconteceu, aconteceu. Se tiver justiça, tem. Se não tiver, não tem. É desse jeito”, finalizou.