Pela primeira vez desde a revolução de 1959, Cuba deixará de ser governada por um Castro. O engenheiro e professor Miguel Díaz-Canel, novo presidente anunciado na última quinta-feira 19 pela Assembléia Nacional, não deverá mudar os rumos políticos na ilha. Com perfil discreto e conservador, Díaz-Canel está alinhado com os pensamentos de Fidel e Raúl e é conhecido pela lealdade ao regime. Em seu discurso de posse, afirmou que “Cuba não faz concessões contra sua soberania e independência, não negociará princípios e nem aceitará condicionamentos”. A grande dúvida é se ele fará reformas econômicas e dará novos passos na abertura do mercado ou manterá um rígido controle estatal na economia e na opinião pública para sustentar a estabilidade do país. Seja qual for sua posição, os cubanos terão de se acostumar com um presidente avesso a falar em público e que pouco entra em temas considerados polêmicos. Raúl Castro continua à frente do Partido Comunista, que é quem dita regras na política cubana.

RENOVAÇÃO Miguel Díaz-Canel saudado por Raúl (acima), e os irmãos Castro: fim de uma dinastia (Crédito:Divulgação)

Com 58 anos, Díaz-Canel nasceu praticamente junto com a revolução, na província de Villa Clara, um ano depois da chegada de Fidel ao poder. Formado em engenharia eletrônica, Díaz-Canel entrou para as Forças Armadas Revolucionárias assim que se formou. Três anos depois, voltou para a academia e passou a lecionar. Sem nunca exercer a engenharia, foi para a Nicarágua durante a Revolução Sandinista. De volta a Cuba, se tornou dirigente da União de Jovens Comunistas de Santa Clara. O ingresso no comitê abriu passagem para que ele entrasse para o Partido Comunista. Em 2003, aos 43 anos, foi o mais jovem dirigente a participar da cúpula do partido. Em 2009, assumiu o ministério da Educação Superior.

Relação com os EUA

Apesar de ser considerado um tecnocrata que irá buscar soluções racionais para as questões políticas no país, Díaz-Canel terá que enfrentar Donald Trump. Com discordâncias e embargos históricos, a ilha começou a ver uma luz no fim do túnel sobre suas relações com o país americano durante a gestão de Barack Obama. Em junho, Trump afirmou para exilados cubanos em Miami que estava cancelando o acordo entre Cuba e EUA que tinha permitido a reabertura das embaixadas dos países em 2015. Assim, viagens de americanos a Cuba e transações comerciais entre empresas dos EUA e entidades militares cubanas estavam proibidas. “O relacionamento dos dois países se dará em função de como Díaz-Canel governará, se implementará mudanças, e também dependerá das ações que o governo Trump decidirá tomar”, afirma o consultor Antonio Quintanilla, do Núcleo de Análise Política da Prospectiva. Com a economia fortemente direcionada pelo Estado, a China é hoje uma grande ameaça para os EUA e deverá ser a principal inspiração para Cuba para dar continuidade às aberturas política e econômica em curso no país.

“Cuba não faz concessões contra sua soberania e independência, não negociará princípios e nem aceitará condicionamentos” Miguel Díaz-Canel, presidente cubano