Em linha com a reforma gestada pelo governo do presidente em exercício Michel Temer (PMDB), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu que uma mudança no sistema de previdência social inclua também os trabalhadores na ativa. A posição é contrária à totalidade das centrais sindicais, que aceitam discutir as mudanças apenas para os trabalhadores que entrarem no sistema a partir da alteração das regras.

“A mudança na Previdência para trabalhadores na ativa é inevitável. A maior parte das reformas da previdência do mundo afetou também as pessoas no mercado de trabalho”, disse o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes. “A CNI defende a idade mínima, a redução da diferença entre gêneros e categorias e acredita que é inevitável que as pessoas na ativa sejam atingidas”, emendou.

Para Fernandes, diante da falta de informações do brasileiro e da resistência das centrais sindicais é preciso um trabalho de convencimento da população. Esse trabalho implica em discussão, apresentação de números, a comparação do Brasil com o resto do mundo e, principalmente, do uso do capital político para explicar as mudanças desejadas.

“É necessário o uso do capital político para que se mostre à sociedade o porquê das transformações. Ninguém faz reforma da Previdência por sadismo, as reformas são feitas para dar sustentabilidade ao recebimento de recursos futuros às pessoas hoje empregadas e que amanhã vão receber as aposentadorias”, completou.

O representante da CNI citou como exemplo o colapso fiscal que a Grécia enfrentou, parte dele atribuída ao sistema previdenciário local. No entanto, Fernandes citou exemplos locais, de Estados brasileiros, como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, que enfrentam dificuldade de pagar salários de aposentados e trabalhadores na ativa.

A CNI apresentou nesta quarta-feira, 18, em Brasília, a pesquisa “Retratos da Sociedade Brasileira”, feita pelo Ibope Inteligência, a qual apontou que 85% dos entrevistados discordariam em pagar mais impostos para manter as atuais regras de aposentadoria. O levantamento mostrou ainda que 75% dos entrevistados, com diferentes níveis de intensidade, querem mudanças no sistema, mas 63% não percebem que regras diferenciadas de previdência impõem custos e mais impostos para a população.

“Essa incoerência reflete a percepção diferenciada da população, que percebe alguns pontos e não percebem outros pontos do sistema previdenciário”, explicou o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

O levantamento, divulgado apenas nesta quarta pela CNI, foi feito com 2002 entrevistados de 143 municípios brasileiros entre 4 e 7 de dezembro do ano passado. A demora para a divulgação da pesquisa, segundo a CNI, ocorreu principalmente por conta do “timing” procurado pela entidade para dar maior “ressonância” ao documento.

A pesquisa apontou ainda que 75% dos entrevistados discordam que os trabalhadores se aposentem cada vez mais tarde, diante de um cenário brasileiro com as pessoas vivendo até idades mais avançadas. No entanto, 65% dos entrevistados concordaram totalmente ou parcialmente com o estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria.