Um projeto de emenda à Lei estadual 8.070/2018, que tornou obrigatória a contratação de profissionais pelos condomínios com academias, pode minimizar uma espécie de epidemia no Rio. O estado é considerado um dos mais sedentários do Brasil. Apenas 19% da população fluminense pratica algum exercício, segundo dados do IBGE.

A nova proposta é fazer com que o profissional de educação física só seja obrigatório em prédios quando houver alguma atividade dirigida, ao contrário do texto original, que exige a presença do professor na academia do prédio o tempo em que ela estiver aberta. Muitos prédios chegaram a fechar suas salas de ginástica por medo de multas ou autuações, e devido aos altos custos com a obrigação de manter um profissional.

Além da inconstitucionalidade apontada por juristas e parlamentares, um dos argumentos para a mudança na Lei é que o sedentarismo é mais arriscado para a saúde do que a atividade física frequente. Uma das bases é o documento “Morte Súbita no Exercício e no Esporte” (MSEE), que compõe as diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.

A MSEE fez um levantamento com jovens abaixo de 35 anos. O índice de óbito decorrente de alguma atividade física, segundo o estudo, é de um a cada 130 mil homens por ano, e uma a cada 769 mil mulheres por ano. Outra pesquisa, realizada na Itália, mostrou incidência de 2,3 MSEE por 100 mil atletas por ano provocada por todas as causas, e 2,1 por 100 mil atletas por ano por doença cardiovascular.

O mesmo documento resume: “De acordo com inúmeros estudos, pode-se considerar que para indivíduos saudáveis que se exercitam, seja em nível competitivo ou não, e independentemente da intensidade, o risco de MSEE é muito baixo quando analisado do ponto de vista estatístico”.

Doenças crônicas

O sedentarismo leva a doenças crônicas responsáveis por 74 mil de cada 100 mil óbitos do Brasil, segundo o Ministério da Saúde: obesidade, diabetes, hipertensão, câncer são algumas dessas enfermidades. Especialistas afirmam que ficar sentado no sofá é infinitamente mais perigoso do que praticar atividades físicas.

Alessandro Sampaio é profissional de educação física e diz que muitas pessoas preferem usar as instalações do próprio condomínio devido à comodidade e praticidade. “O que eu percebo entre os meus alunos é que a motivação principal é a facilidade do acesso às instalações esportivas. Eles evitam ficar mais tempo no congestionamento e, a poucos passos de casa, conseguem ter uma estrutura para praticar exercício”, conta.

Com a polêmica da lei, o CREF recuou e assinou um compromisso com a OAB para suspender as multas e autuações até que o texto fosse debatido. Para Sampaio, o fechamento das academias dos condomínios por medo de multas e autuações pode aumentar mais o número de sedentários no estado e trazer mais problemas para a população. “Pode fazer com que muitas das pessoas que praticam exercício pela comodidade desistam de se exercitar”.

Os dados mostram claramente que não há correlação estatística entre morte súbita e a prática de atividade física. Pelo MSEE, 99,3% das mortes súbitas não ocorrem durante a atividade física, e sim em fatos cotidianos, geralmente em pessoas que não se exercitam. O sedentarismo acaba sendo muito mais perigoso do que a falta de um responsável técnico pelo exercício.

Dicas para começar a se exercitar:

1 – Se possível, realizar um check up geral para ver como o corpo está apto a prática regular de exercícios ou se precisa de algum cuidado especial na hora de se exercitar;

2 – Começar os exercícios de forma progressiva. Primeiramente uma caminhada e depois pequenas corridas para dar condicionamento físico ao corpo;

3 – É importante não sobrecarregar o corpo logo de cara para não sofrer lesões, já que a musculatura não está acostumada ao exercício;

4 – Se possível, contar com a ajuda de um profissional habilitado para ter uma programação adaptado a necessidade do atleta.