O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, já disse a que veio: servir passivamente e com total submissão ao presidente Jair Bolsonaro nos seus propósitos de aliviar o isolamento social ou até de acabar com ele o mais rápido possível – e de imunizar e colocar em risco imediato de morte o maior número possível de brasileiros suscetíveis à Covid-19. O ministro só foi se apresentar oficialmente ao público na quarta-feira 22, quando deu uma entrevista coletiva e tratou de falsear os números da pandemia e propagar informações confusas. Para ele, o impacto do coronavírus está superdimensionado e os números disponíveis são pouco confiáveis. Ao lado do ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, atualmente o chefe operacional do governo, e o do ministro-chefe da Secretaria do Governo, Luiz Eduardo Ramos, Teich demonstrou que sua chegada no Ministério é uma espécie de intervenção. Junto com ele chegou também o general da ativa Eduardo Pazuello, especialista em logística, que será o número 2 da pasta, com o cargo de secretário executivo.

FAKE NEWS Em reunião com ministros do G-20, Teich disse que informações falsas são o principal problema da pandemia (Crédito:Divulgação)

Preocupação econômica

O movimento de largada de Teich deixou claro que ele está mais preocupado com os problemas econômicos do que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta estava. Para ele, saúde e economia andam juntas, não competem, o que mostra uma tentativa de tirar o foco no problema imediato: salvar vidas a qualquer custo. Enquanto Mandetta veio do SUS, Teich é um homem da iniciativa privada, um médico oncologista e gestor, que pensa, por exemplo, em limitar a compra de respiradores na situação de emergência para que não haja ociosidade de equipamentos no futuro. Se antes de assumir o cargo defendia a testagem em massa, agora diz que o mais importante é interpretar os dados disponíveis. Fala em fazer uma gestão racional da aquisição e da distribuição dos insumos, tentando sempre gastar menos do que o necessário. É frio e calculista, enquanto Mandetta tinha alguma paixão, além de autonomia em relação às vontades obscurantistas do presidente. A chegada de Teich no cargo também visa confundir os cidadãos com números tirados sabe-se lá de onde. “O Brasil hoje é um dos países que melhor performa em relação à Covid-19”, disse, com seu linguajar de executivo. “Se você analisar mortos por milhão de pessoas, o número do Brasil é de 8,17. A Alemanha tem 15, a Itália, 135, a Espanha, 255, o Reino Unido, 90, e os Estados Unidos, 29”, disse. São números aleatórios e citados sem fonte. A Itália, por exemplo, tem 416 mortes por milhão de habitantes e a Espanha, 468. Antes de aparecer em sua primeira entrevista, Teich passou por um media training, serviço de treinamento que se dá às autoridades inseguras para aperfeiçoarem seu relacionamento com jornalistas. O objetivo era deixar o novo ministro afiado para falar com a imprensa, mas o esforço foi inútil. Com seu pragmatismo, Teich trouxe mais insegurança do que novas perspectivas. Ele pensa em aliviar o isolamento já nesta semana e vai tentar oferecer argumentos técnicos, eventualmente falsos, para convencer a opinião pública disso. Enquanto Mandetta se orientava pelos cientistas e profissionais de saúde, Teich vai seguir a estratégia maluca do governo. Devemos temer o futuro próximo.

Pedro Ladeira