O longo reinado dos dinossauros na Terra não terminou somente pelo impacto de um meteoro no planeta há 66 milhões de anos, mas também por causa de impiedosas mudanças climáticas ligadas a vulcões que ocorreram antes e depois desse evento – disseram cientistas americanos nesta terça (5).

O impacto em Chicxulub, onde hoje é o México, certamente contribuiu para o desaparecimento dos dinossauros e de outras espécies, mas não foi, de modo algum, a única causa dessa extinção, conclui a equipe em estudo publicado na revista britânica Nature Communications.

Das 24 espécies de moluscos que foram extintas em uma ilha do Atlântico, 10 desapareceram muito antes da rocha extraterrestre – um cometa, ou um asteroide – colidir com o nosso planeta, afirmam os autores do estudo.

As outras 14 desapareceram em uma segunda onda de extinção que começou com o impacto meteórico, contribuindo para a segunda maior extinção em massa da vida na Terra – incluindo todos os dinossauros não aviários.

De acordo com os pesquisadores, o desaparecimento das espécies foi causado por dois períodos de aquecimento global – o primeiro provocado por gigantescas erupções vulcânicas onde hoje é a Índia; e o segundo, pelo próprio impacto do meteoro.

Ambos os conjuntos de calamidades teriam provocado não só a emissão de cinzas e poeira, bloqueando o sol e diminuindo as temperaturas no curto prazo, mas também ejeções maciças de gases causadores do efeito estufa, que teriam causado “episódios de aquecimento” a longo prazo.

“Nós descobrimos que a extinção em massa do fim do Cretáceo foi causada por uma combinação” de dois eventos sucessivos, “o vulcanismo e o impacto do meteorito”, disse a coautora do estudo Sierra Petersen.

Mudança climática

A equipe analisou a composição química de 29 fósseis de conchas de moluscos desse período e compilou um registro de temperaturas abrangendo 3,5 milhões de anos, correspondente ao final do Cretáceo e ao início do Paleógeno.

Os moluscos viveram entre 65,5 e 69 milhões de anos atrás na foz de um rio perto da ponta norte da península Antártica, segundo um comunicado da universidade. Na época, o continente hoje coberto de gelo era provavelmente coberto por florestas de coníferas.

A equipe de Petersen descobriu que a temperatura dos oceanos aumentou cerca de 7,8 graus Celsius após uma das maiores erupções vulcânicas da história, na região de Deccan Traps na Índia. Esse fenômeno durou milhares de anos e expeliu gases tóxicos para a atmosfera.

Um segundo aumento no termômetro, de cerca de 1,1º C, ocorreu cerca de 150.000 anos mais tarde, por volta da época do impacto.

“Este novo registro de temperaturas sugere uma ligação direta entre os eventos do vulcanismo e do impacto e a extinção – com essa ligação sendo a mudança climática”, acrescentou Petersen.

Há muito tempo, os cientistas debatem a causa da extinção em massa do chamado Cretáceo-Paleógeno, também conhecido como fronteira K-Pg, que se refere ao desaparecimento dos dinossauros e de outros répteis gigantes e que foi seguido pela ascensão dos mamíferos.

Alguns culpam o impacto; alguns, a atividade vulcânica; e outros, uma combinação de ambos.

Estudos recentes têm apontado o papel de erupções vulcânicas que vieram depois, e não antes, do impacto meteórico.

O aquecimento antes do impacto, causado pelo vulcanismo, “pode ter aumentado o estresse do ecossistema, tornando-o mais vulnerável ao colapso quando o meteoro caiu”, concluiu a equipe.

No mundo de hoje, os cientistas advertem que o aquecimento do planeta causado pela queima de combustíveis fósseis para gerar energia está contribuindo para um novo evento de extinção em massa, que seria o sexto em meio bilhão de anos.

A mudança climática provoca a subida do nível dos mares, o desaparecimento de espécies, a propagação de doenças, o aumento da intensidade de tempestades e faz as áreas secas se tornarem mais secas, e as úmidas, mais úmidas.