No centro aberto para receber as famílias das vítimas dos ataques a duas mesquitas na cidade neozelandesa de Christchurch, muçulmanos de todas as origens se abraçam, derramam lágrimas e trocam palavras sobre seus entes queridos.

Azan Ali, 43, originário de Fiji, estava na mesquita Linwood com o pai no momento do ataque, que deixou sete mortos naquele local. Ele começa a tremer quando se lembra dos tiros.

“Pensei: ‘Vou voltar a ver meus pais, meus parentes? Todas essas pessoas com quem você reza, que você tem ao lado”, murmura. “Meus filhos estão com medo. Mas temos que superar, como comunidade”, diz o homem, perplexo, como muitos muçulmanos (que representam 1% da população da Nova Zelândia), com tamanha violência.

No total, 49 fiéis morreram nos ataques contra as mesquitas de Al-Nur, no centro de Christchurch, e Linwood, no subúrbio.

O pai de Ali, Sheik Aeshad, que viu um muçulmano baleado no pescoço, não entende como um atentado assim ocorreu no país. “Não achamos que pudesse ocorrer na Nova Zelândia, um país tão amigável, em que você pode deixar a porta de casa aberta. Mas não mais. Penso no que pode acontecer da próxima vez”, lamenta.

– Solidariedade –

Este sentimento é compartilhado pela enfermeira neozelandesa de origem somali Sahra Ahmed.

“Isso acontece em todo o mundo. As pessoas gostam de importar ideias dos outros. Não estamos protegidos do que está acontecendo. Pouco importa para onde você vá, o mundo é muito pequeno”, reflete.

Na mesquita Linwood, os tapetes novos instalados há alguns meses estão marcados pela tragédia. “Havia sangue por todo lado. Era uma coisa caótica”, relata Ibrahim Abdel Halim, imã da mesquita, de origem egípcia, que se dispõe a enterrar os mortos. Sua mulher, Falwa El Shazly, foi ferida no braço durante o ataque, e estava perto de uma mulher que foi morta.

Vários dos sete fiéis mortos em Linwood participavam ativamente da vida na mesquita. Um deles, um neozelandês originário de Fiji, costumava doar alimentos procedentes de seu restaurante.

“Todos eles são muito queridos, era gente que trabalhava como voluntária para nós”, assinala Abdel Halim.

Mohamad Kamruzzaman, de Bangladesh, conta que correu para a mesquita assim que soube da notícia. Cinco de seus amigos bengaleses continuam desaparecidos, entre eles uma mulher que ensinava voluntariamente o Alcorão para as crianças. “É como se tivéssemos perdido um membro da família.”

O massacre comoveu a Nova Zelândia, país de 5 milhões de habitantes que se orgulha de ser uma nação aprazível e acolhedora e onde são registrados cerca de 50 assassinatos por ano.

Um grande movimento de solidariedade entre confissões tomou conta de todo o país. Cerca de 2,3 milhões de dólares foram arrecadados em 24 horas, e foram organizadas doações e compras de alimentos halal para as famílias das vítimas que aguardam em hospitais.

Uma moradora de Wellington se ofereceu no Facebook, em uma publicação muito compartilhada, para acompanhar os muçulmanos que estão com medo de andar na rua.