Por Andre Romani

SÃO PAULO (Reuters) – Apesar de duas decisões na Justiça para reintegração de posse, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) decidiu por permanecer nas três fazendas de eucalipto da Suzano ocupadas no início da semana, disse nesta sexta-feira à Reuters Eliane Oliveira, dirigente do movimento na Bahia, onde estão ocorrendo as ações.

A decisão pode comprometer uma reunião entre as partes que estava sendo negociada, com ajuda do governo, para semana que vem. Isso porque, segundo ela, a proposta recebida pelo MST era que deixasse os terrenos para que o encontro ocorresse.

“A proposta (conversada com governo e Suzano) era que, se desocupasse, a reunião aconteceria na quarta-feira. A nossa decisão é de não sair”, disse ela. “Continuamos, entre a direção do movimento, dialogando. Até esse momento agora, a decisão é de não sair. Vamos aguardar a reintegração”, acrescentou ela.

Membros do MST adentraram as fazendas da Suzano na madrugada da última segunda-feira no sul da Bahia. A empresa disse que as áreas “foram invadidas e danificadas ilegalmente” em atos que “violam o direito à propriedade privada”.

O MST afirmou no início da semana que as cerca de 1.700 famílias que participam da ação “reivindicam a desapropriação imediata dos latifúndios para fins de reforma agrária” e criticou ainda a monocultura de eucalipto na região.

Oliveira, da direção estadual do MST na Bahia, disse, porém, que o motivo da ocupação é um acordo feito com a Suzano no início da década passada para a cessão de terras pela empresa a 650 famílias do movimento. O MST na ocasião ocupou terras da companhia na região, extremo Sul da Bahia, e recebeu da Suzano promessa de terreno para essas famílias em áreas locais, incluindo as da ocupação atual, afirmou a dirigente. Segundo ela, a companhia não cumpriu sua parte.

Na quinta-feira, o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, disse que a pasta mediaria o conflito entre a Suzano e o MST após ter sido procurado por executivo da empresa de celulose.

A Suzano já entrou com pedidos de reintegração de posse das três fazendas alvo da ação do MST, tendo conseguido decisões favoráveis até então em duas delas, nos municípios de Mucuri e Teixeira de Freitas, este nesta sexta-feira. A empresa disse esperar uma determinação semelhante nos próximos dias quanto ao terreno na cidade de Caravelas.

Procurada sobre o acordo citado por Oliveira, a Suzano inicialmente apenas reiterou posicionamento enviado mais cedo sobre as decisões na Justiça, no qual dizia, entre outros pontos, que “reconhece a relevância da sua presença nas áreas onde atua e reforça seu compromisso em manter um diálogo aberto e transparente, de maneira amigável e equilibrada”.

Posteriormente, a empresa enviou novo comunicado, no qual disse que “não existe descumprimento de acordo por parte da empresa, mas sim a existência de contrapartidas não realizadas sob responsabilidade dos órgãos federais”, sem dar mais detalhes.

Oliveira negou que o momento da ocupação tenha relação com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais alinhado ao movimento do que seu antecessor Jair Bolsonaro. “Para nós, não tem essa relação do governo Lula agora.”

A dirigente do MST, que disse estar alternando entre as três propriedades ocupadas no dia a dia, afirmou que o movimento tentou diversas vezes reuniões com a Suzano ao longo dos anos. Oliveira disse que os encontros não ocorreram e relatou “morosidade” da empresa nas negociações.

“Ela (Suzano) se comprometeu a ceder áreas para 650 famílias. O que ela não fez até hoje. As família estão aglomeradas em áreas pequenas nos acampamentos e a reivindicação agora, inclusive da ocupação das outras três áreas, é que viabilize e cumpra com o que ela acordou”, acrescentou.