Os sobreviventes de naufrágios no Mediterrâneo precisam de ajuda psicológica, especialmente depois de terem identificado seus entes queridos entre os corpos recuperados no mar – alertou a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) nesta quarta-feira (23).

Quando um pequeno barco com excesso de lotação afundou em frente à pequena ilha italiana de Lampedusa em 7 de outubro, com 50 pessoas a bordo. Destas, apenas 22 foram salvas. Entre os corpos recuperados no mesmo dia da tragédia, havia 13 mulheres, todas africanas, várias delas grávidas.

Os mergulhadores italianos da Guarda Costeira encontraram vários corpos flutuando ao redor da embarcação no fundo do mar, incluindo o de um bebê, cuja mãe ainda o segurava enquanto se afogavam.

Alguns corpos foram identificados por parentes que sobreviveram à tragédia, “traumatizados” e que, “continuamente, veem e revivem as imagens do naufrágio”, relatou o psicólogo Dario Terenzi.

“Eles tremem de terror (…) pensam nos parentes e amigos”, acrescentou.

O que mais os afeta, continuou Terenzi, é ver como “os corpos se transformaram e a cor da pele ficou diferente”, depois de perder sua coloração negra.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

“Uma garota nos perguntou por que algumas mortas ficaram brancas. A água do mar corrói os corpos a ponto de mudar a cor da pele. As características faciais também são distorcidas”, disse o especialista.

Para identificá-los melhor, é necessário lembrar a roupa que usavam, uma marca de nascença, ou uma tatuagem em particular, disse ele.

Os sobreviventes sofrem pesadelos, têm dificuldades para dormir e muito medo de ficar sozinhos, explicou.

Alguns não dormiram por vários dias consecutivos, perderam completamente o apetite e sofrem um complexo de culpa por terem sobrevivido, resumiu a MSF, que pede às autoridades italianas um tratamento especial para que possam melhorar.

A organização recomenda que os sobreviventes fiquem juntos, porque isso “os ajuda significativamente”.

“Naufragar é algo que prende você por toda vida”, afirmou.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), quase 700 pessoas se afogaram, ou desapareceram, tentando atravessar o Mediterrâneo até agora este ano.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias