A Polícia Civil do Rio de Janeiro realizou uma escuta telefônica no aparelho de Júlia Lotufo, viúva do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020. No áudio, ela disse que a ex-esposa do miliciano, Danielle da Nóbrega, era funcionária fantasma do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Mesmo assim, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) não anexou a gravação no caso que investiga o possível esquema de “rachadinhas” no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). As informações são do UOL.

A conversa de Júlia com uma amiga foi interceptada durante a Operação Gárgula, em julho de 2019, e obtida com exclusividade pelo jornal Folha de S.Paulo.

No áudio, a viúva reclamou sobre as queixas de Danielle por ser suspeita de participar do suposto esquema de “rachadinhas”, em que parte do salário dos servidores da Alerj era recolhido.

“Ela foi nomeada por 11 anos. Onze anos levando dinheiro, R$ 10 mil por mês para o bolso dela. E agora ela não quer que ninguém fale no nome dela? […] Bateram na casa dela porque a funcionária fantasma era ela, não era eu.”

Apesar disso, a Procuradoria Geral de Justiça do Rio de Janeiro (PGJRJ), que é responsável sobre o caso, não tomou nenhuma providência a respeito dessa ou de outras provas.

Investigadores ouvidos pelo UOL sob condição de anonimato informaram que a gravação poderia embasar um novo pedido de quebra de sigilo bancário de Flávio Bolsonaro. O que auxiliaria a retomada das investigações sobre as “rachadinhas”.

No ano passado, Júlia também tentou fazer uma colaboração premiada com o MPRJ. Porém ela não mencionou a possível existência de funcionária fantasma.

Áudio é válido contra Fabrício Queiroz

A conversa interceptada da viúva de Adriano da Nóbrega soma-se às poucas provas sobre o caso das “rachadinhas” que não foram anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2021.

Ainda são válidas as trocas de mensagens entre Danielle da Nóbrega e Fabrício Queiroz, que atuava como assessor de Flávio Bolsonaro e é apontado como o operador do esquema.

O celular de Danielle foi apreendido durante a Operação Intocáveis, em janeiro de 2019. Por meio do aparelho telefônico, os investigadores descobriram que ela admitiu para algumas amigas por meio de mensagens que se sentia mal com a “origem do dinheiro”.

Em dezembro de 2017, Fabrício Queiroz relatou durante uma conversa com Danielle que a família Bolsonaro temia que o vínculo dela com Adriano da Nóbrega pudesse prejudicar a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018.

O que dizem os envolvidos

O UOL procurou o MPRJ para comentar o caso, mas não obteve retorno até o momento.

A assessoria do senador Flávio Bolsonaro negou por meio de nota a existência de um esquema de “rachadinhas” em seu antigo gabinete. Ressaltou que todos os seus funcionários atuavam de acordo com a regras da Alerj.