O Ministério Público pediu, nesta quarta-feira (20), a prisão perpétua para o chileno Nicolás Zepeda pelo homicídio premeditado, em 2016, de sua ex-namorada, a japonesa Narumi Kurosaki, na França, enquanto a defesa apresentou um cenário alternativo de homicídio culposo.

“E se Narumi morreu de um impacto na cabeça contra um aquecedor durante uma briga?”, sugeriu o advogado de defesa Renaud Portejoie à corte de apelação formada por três magistrados e nove jurados populares, diante de uma sala lotada no Palácio de Justiça de Versoul (leste).

“O que muda? Muda que vocês o absolvem [de homicídio doloso]! Seria culpado de violência deliberada com resultado morte não intencional”, afirmou Portejoie, ao apresentar uma hipótese que, se for aceita pela corte, resultaria em uma pena mais branda.

Na primeira instância, Zepeda, que nega os fatos, foi condenado em 2022 a 28 anos de prisão pelo assassinato premeditado de Narumi, cujo corpo nunca foi encontrado. O acusado recorreu da sentença e agora pode ser condenado à prisão perpétua no julgamento de apelação.

Kurosaki desapareceu em 4 de dezembro de 2016 em Besançon (leste da França), onde estudava um ano de intercâmbio e, segundo a acusação, o chileno a teria matado na madrugada do dia 5 na residência universitária onde ela vivia e depois de livrou do corpo.

“Nicolás Zepeda a asfixiou ou a estrangulou”, afirmou o promotor Étienne Manteaux. Para o Ministério Público, os “gritos de mulher” ouvidos na madrugada são a “prova central” do crime.

Por estes fatos, o promotor pediu a prisão perpétua para Zepeda por homicídio doloso e considerou, ainda, que existem agravantes de premeditação ou violência praticada por um ex-companheiro.

“É um feminicídio em todo o sentido que a sociedade dá atualmente”, ressaltou.

O promotor apresentou o acusado como um “macho ferido” e “ciumento”, que não teria aceitado que sua ex-namorada fosse estudar na França, fugindo de seu “controle”, rompesse com ele semanas depois e iniciasse um novo relacionamento com Arthur del Piccolo.

– Alma errante –

O último dia do julgamento, antes de o tribunal se retirar para deliberar na quinta-feira após as últimas palavras do réu, foi marcado por alegações e pelo choro da inconsolável mãe de Narumi Kurosaki, que provocou a suspensão da audiência por meia hora.

A família da japonesa está mergulhada em um “luto impossível”, disse ao tribunal sua advogada, Sylvie Galley. Sua mãe “imagina a alma de sua filha vagando pelo bosque”, explicou.

Para a acusação, Zepeda se desfez do corpo da ex-namorada em uma área de mata a cerca de 50 km de Besançon, queimando-o com o galão de combustível e os fósforos que comprou dias antes, para depois atirá-lo no rio Doubs.

Mas os trabalhos de buscas, com meios aéreos, terrestres e mergulhadores, não permitiram localizar o cadáver. O outro advogado de defesa, Sylvain Cormier, questionou que a acusação tenha atribuído a seu cliente “qualidades sobre-humanas” para deslocar o corpo por um bosque.

“Este caso se tornou assunto de Estado”, sentenciou o advogado, sugerindo que o Ministério Público se empenha em acusar Zepeda pelos importantes recursos mobilizados para fazer uma investigação incompleta, em sua avaliação.

Mas, entre as “provas avassaladoras” para Manteaux está a conexão com as contas de aplicativos de mensagens e de uma rede social de Kurosaki a partir de Espanha, Suíça e Chile, coincidindo com a presença do chileno nestes países dias depois do desaparecimento da jovem.

Para a acusação, Zepeda se apoderou do celular da ex-namorada e se fez passar por ela para enviar mensagens através de suas contas nestes aplicativos e redes sociais a seu círculo próximo, atrasando, assim, o início das buscas até seu retorno ao Chile, em 13 de dezembro.

O veredicto é esperado para esta quinta-feira.

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