ROMA, 20 JAN (ANSA) – O Ministério Público de Roma denunciou nesta quarta-feira (20) quatro agentes dos serviços secretos do Egito pela morte do pesquisador italiano Giulio Regeni, sequestrado, torturado e assassinado no Cairo no início de 2016.   

O general Tariq Sabir, Athar Kamel Mohamed Ibrahim, Uhsam Helmi e Magdi Ibrahim Abdelal Sharif são acusados de sequestro qualificado, homicídio qualificado e lesões corporais qualificadas. A audiência que decidirá sobre a aceitação da denúncia deve ocorrer até o fim do primeiro semestre.   

A legislação italiana impede a abertura de processos quando não se tem certeza que os acusados foram notificados, mas, neste caso, o Tribunal de Roma pode levar em conta a relevância midiática do assunto e a ampla difusão dos nomes dos agentes.   

Regeni vivia no Cairo, capital do Egito, para preparar uma tese sobre sindicatos independentes para a Universidade de Cambridge, mas desapareceu no dia 25 de janeiro de 2016.   

Ele havia sido visto pela última vez em uma linha de metrô, e seu corpo só foi encontrado mais de uma semana depois, com evidentes sinais de tortura. O italiano frequentava organizações sindicais clandestinas e contrárias ao presidente Abdel Fattah al-Sisi, o que levantou a hipótese de crime político.   

Brutalidade – Segundo a acusação, os quatro agentes secretos seguiam os passos de Regeni desde o fim de 2015 e o abordaram na noite de 25 de janeiro de 2016, no metrô do Cairo. Em seguida, teriam conduzido o pesquisador contra sua vontade para uma delegacia e, depois, para um edifício onde ele ficaria nove dias em cativeiro.   

O MP diz que Regeni foi “seviciado durante dias”, o que provocou “agudo sofrimento físico”, inclusive por meio de “objetos escaldantes, chutes, socos, lâminas e bastões”. Essas ações teriam causado “numerosas lesões traumáticas na cabeça, no rosto, no trato cérvico-dorsal e nos membros inferiores”.   

O torturador, segundo o Ministério Público, era Magdi Ibrahim Abdelal Sharif, também tido como autor material do homicídio.   

Uma testemunha citada no inquérito diz ter visto o italiano jogado no chão e algemado, com sinais de tortura no tórax.   

“Ele estava delirando e muito magro. Estava deitado no chão com o rosto para trás, algemado. Tinha marcas nas costas, consigo lembrar daquela cena mesmo tendo se passado anos. Eu o reconheci alguns dias depois pelas fotos nos jornais”, relatou a testemunha, que trabalhou durante 15 anos na sede da Segurança Nacional do Egito. (ANSA).