O Ministério Público do Chile abriu uma investigação sobre o violento ataque a imigrantes venezuelanos, cujos pertences foram queimados no sábado (25) na cidade de Iquique (norte) por manifestantes que protestavam contra sua crescente presença na área.

A manifestação reuniu cerca de 3.000 pessoas com bandeiras chilenas e cartazes. Em meio a ameaças xenófobas, os mais radicais queimaram os poucos pertences dos imigrantes que acampavam nas ruas desta cidade da região de Tarapacá, cerca de 1.800 quilômetros ao norte de Santiago.

Em um clima de aberto repúdio aos imigrantes venezuelanos, os manifestantes entoaram o hino da cidade e agitaram bandeiras chilenas, assim como a Whiphala, pavilhão colorido dos povos originários andinos, para expressar sua oposição à migração ilegal, associada à criminalidade com boatos que circulam por todo tipo de plataforma.

Também cantaram e exibiam cartazes com lemas como: “Chega de Imigração Ilegal” e “O Chile é uma república que se respeita”.

A promotora de Iquique, Jócelyn Pacheco, instruiu a Polícia de Investigação (PDI) a “averiguar os eventos ocorridos em Iquique que culminaram na queima de pertences de famílias de imigrantes”, segundo uma mensagem postada neste domingo (26) no Twitter oficial do MP de Tarapacá.

Pacheco também “ordenou medidas de proteção às vítimas [imigrantes]”, que após o ataque tiveram que fugir, se esconder e pernoitar nas ruas e praias de Iquique, confirmou um jornalista da AFP.

O protesto ocorreu um dia depois de uma ordem de despejo na Praça Brasil, onde há um ano pernoitam os migrantes mais pobres e sem documentos que não conseguem chegar a Santiago e sobrevivem vendendo balas, pedindo esmolas ou limpando vidros dos carros nos sinais de trânsito da cidade.

O ministro do Interior do Chile, Rodrigo Delgado, manifestou seu desacordo com o violento protesto, mas declarou que vão “continuar com os despejos em todos os espaços públicos que forem necessários” e também “com o plano de expulsão” de imigrantes sem documentos executado pelo governo chileno.

A violência contra os imigrantes em Iquique foi condenada por organizações como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e o relator especial da ONU para os direitos humanos dos migrantes, Felipe González, que descreveu o incidente como uma “humilhação inadmissível contra migrantes especialmente vulneráveis”.

Por sua vez, o Unicef expressou “sua preocupação pela situação vivida por crianças e adolescentes imigrantes em Iquique e pede ao Estado que garanta e proteja seus direitos, cumprindo assim os tratados internacionais firmados pelo país”.

Os últimos incidentes ocorrem em meio à crescente chegada de milhares de migrantes sem documentos que cruzam a fronteira entre a Bolívia e o Chile a pé por travessias no inóspito Altiplano, colocando suas vidas em risco. Cerca de 11 migrantes morreram na área até agora este ano.

A maioria dos migrantes tenta chegar a Santiago. Mas os mais pobres não têm recursos para pagar por uma viagem à capital chilena e ficaram em Iquique ou outras cidades do norte do país, acampando nas ruas em condições precárias.