16/09/2016 - 18:00
Lava Jato
Movimento de risco
Criticar a Lava Jato é ato de risco. Concentradas nas redes sociais, as reações costumam carregar adjetivos abaixo da linha da cintura e questionar moralmente as “intenções” do autor. A virulência é explicável. Vista como a mais sólida possibilidade de ferir as quadrilhas que sangram o Estado e exibindo invejáveis avanços, a operação foi coletivamente abraçada como um bem a ser protegido a qualquer custo.
Ainda assim, apontar falhas cometidas pelos protagonistas dessa luta – não fosse dever de ofício para muitos – é a melhor contribuição que se pode dar. Nesse sentido, é preciso classificar a entrevista convocada pela Força Tarefa como um capítulo de utilidade tão discutível quanto a condução coercitiva de Lula para depor em março. De concreto, a ação nada somou às investigações e turbinou o discurso de vítima que o ex-presidente explora como ninguém.
Excluídos os dois crimes denunciados, de corrupção e lavagem de dinheiro, aos quais a coletiva dedicou pouco tempo, o aparato e a solenidade do ato deixaram em muitos entusiastas da Lava Jato, como este colunista, a desconfortável sensação de tiro no pé. Pode-se acreditar que Deltan Dallagnol acertou na mosca 100% de suas acusações. Afinal, as convicções por ele enumeradas, apoiadas em incontáveis indícios e delações, não apenas formaram enredo coerente, como remeteram a um ambiente, o da política brasileira, onde fatos como aqueles fazem parte do cotidiano.
Entretanto, crença é insumo para religiões, não para sentenças. Mesmo os que desejam na cadeia aqueles que pilharam o País, sabem que a falta de provas dificulta condenações, ainda que se torça por elas. O rigor com que Sérgio Moro vem atuando precisará contaminar instâncias superiores, algo possível, mas, não, matemático.
Claro que evidências e clamor público pesam na atuação dos juízes, mas não as determinam.
Muitos outros processos e investigações em curso no STF e STJ, na Procuradoria Geral da República e na Justiça Federal, além de inúmeros delatores, suspeitos, réus e testemunhas, somados a outras fontes e colaborações, compõem acervo robusto para que a Lava Jato, como querem os brasileiros, chegue aos seus objetivos, mesmo enfrentando inimigos poderosos.
É importante que ela mesma não os fortaleça.
Telecomunicações
Contracheque gordo
Maior recuperação judicial até hoje no Brasil, a Oi tem milhares de credores a pagar. A lista em poder da 7ª Vara Empresarial do TJ do Rio tem muitas curiosidades. Uma diz respeito à Zeinal Bana. Ele presidiu a empresa de junho de 2013 a outubro de 2014 para liderar a fusão da empresa com a Portugal Telecom. Ao sair, acertou com a operadora o pagamento de uma indenização, em 36 parcelas, em euros. Segundo a Oi, a dívida soma R$ 16,9 milhões.
Governo
Sem crise
Zelador dos gastos federais, o Ministério do Planejamento não brinca em serviço: acaba de abrir licitação para reforma do Bloco O da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O serviço, que, pelo preço, deve ser urgente, vai custar R$ 99.709.799,20 – atenção para os 20 centavos! Além da parruda despesa, chama atenção o item 5 do edital. Suas exigências são tantas e tão peculiares que parecem sob medida para produzir alguma coincidência milagrosa.
Eleições 2016
O fator Erundina
Há uma divisão entre os comandantes da campanha de Luiza Erundina (Psol) à prefeitura de São Paulo. Um grupo parece estar disposto a ceder às pressões do PT para que ela retire a sua candidatura em favor de Fernando Haddad. Seria, de acordo com a avaliação dessa turma, a única maneira de fazer o petista crescer nas pesquisas. Há quem ache que, antes de pedir qualquer coisa, o PT deveria reconhecer os erros que o jogaram no fundo do poço.
Infraestrutura
Alto lá!
Dois membros indicados pelo Ministério da Fazenda para o Comitê de Crédito do Fundo de Infraestrutura do FGTS–FI, que tem R$ 12 bilhões para investir e mais R$ 30 bilhões previstos, não foram aprovados pelo Conselho Curador do FGTS, que tem esta atribuição. Conselheiro da Confederação Nacional da Indústria pediu para estudar melhor os currículos. Como isso nunca ocorreu, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, que preside o colegiado, tirou o tema da pauta. Enquanto isso, por falta de quorum, o comitê de crédito do FI não se reúne, atrasando investimentos que o Brasil precisa.
STF
De partida
O ministro Luís Roberto Barroso cumpre agenda internacional. Vai representar o STF em encontro de juízes na Universidade de Yale, nos EUA, na quarta-feira 21. Com os investidores arredios, o pessoal do Direito está interessado em entender o impeachment, a Lava-Jato e como as instituições seguem de pé, em meio às turbulências vividas pelo Brasil.
Eleições 2016
Páreo duro
A denúncia contra Lula feita pelo MPF complicou de vez a reeleição do petista Fernando Haddad (foto). Com 9% dos votos, ele tenta nacionalizar a campanha – e contava com o ex-presidente em seus comícios. O então “patinho feio” na briga, João Dória (PSDB) desponta no segundo lugar (17% segundo o Ibope, e em empate técnico com Marta Suplicy PMDB-20%). A eleição encerra ainda uma dúvida: Celso Russomano (PRB) será de novo um “cavalo paraguaio”?
Indústria
Além do Sol
Pela primeira vez uma vitamina D ocupa o ranking dos dez medicamentos mais vendidos no País. O Addera3, da Barinfarma, ficou em 9º lugar, segundo o IMS Health, instituto que audita o setor, no período janeiro-agosto. A medalha de ouro segue com o analgésico Dorflex (Sanofi). Logo atrás aparecem Xarelto (Bayer/prevenção de coágulos sanguíneos) e Selozok (AstraZeneca/anti-hipertensivo).
Lava Jato
Puniu antes
Crescem as críticas ao MPF do Paraná, pela forma como denunciou Lula. “Show midiático e desrespeito escandaloso à regra constitucional da presunção de inocência – “reo res sacra est” (o réu é coisa sagrada) , disse Técio Lins e Silva, presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros. “O indigno espetáculo é incompatível com as funções do Ministério Público, isto é, ser fiscal da lei e de sua fiel execução” acentuou o criminalista, antes de concluir: “nem na ditadura o MP ousou produzir tanto escárnio contra meros acusados. Parece que os 20 anos do regime não serviram para educar, mas criou uma cultura da intolerância e da repressão”.
Comércio
Não cresce
É de 5% a previsão de queda nas vendas do varejo paulista este ano. O anúncio será feito nos próximos dias pela associação comercial (ACSP), com base em dados colhidos até quarta-feira 14. A estimativa anterior (junho) era de 4,3% negativos.
Fotos: Nacho Doce/REUTERS; Adriano Machado/AG. ISTOé; Renato S. Cerqueira/Folhapress; Paulo Pinto; Alexandre Rezende/AE