Felício não é um sujeito otimista. Motorista de táxi há mais de 30 anos, seria ótimo se contaminasse seus passageiros com alegria, bom humor e alto astral. Mas não é o que ocorre. Não existe uma notícia boa que Felício não consiga converter em algo ruim.

Felício trabalha no ponto de táxi ao lado de casa. Sempre que vou à padaria passo por ele.

— Tudo certo, Felício?

— De certo só a morte, doutor — responde ele, chutando uma pedrinha no asfalto.

Freguês antigo, acompanhei a história do Brasil pela leitura ranzinza do Felício.

Na eleição do Collor ele mandou:

— Esse almofadinha vai quebrar o País. Pode anotar aí.

Veio o Itamar:

— Um presidente que ninguém sabe quem é. Tamô encrencado mesmo…

Fernando Henrique:

— O senhor sabe que esse FHC é um comunista dos graúdos, né? Agora ferrou.

Chegou o Lula:

— Esse nunca me enganou. Agora afunda de vez.

Veio a Dilma:

— Isso é um Lula de saias.

Bolsonaro:

— Pronto. Elegemos um ditador, pode esperar.

O mau humor de Felício se espalha por todos os setores.

Felipão, Tite, Muricy e Mano Menezes:

— Não entendem patavinas de futebol. Depois tomamos de 7 a 1 e não sabemos o porquê.

Sandy, Marisa Monte, Nando Reis:

— Eu não gosto de canário. Começou a cantar, desligo.

Mas é na política que Felício prefere atuar.

Quando Haddad criou as ciclovias, ele garantiu:

— Tudo feito sem nenhum planejamento. Ciclofaixa com poste no meio. Não vai dar certo.

Agora o prefeito resolveu pintar as ciclovias de preto. Vermelho, só nos cruzamentos. Felício se contradiz sem nenhum constrangimento, em nome do seu mau humor.

— Tava tudo ótimo como era. Ô gente para estragar o que já estava bom.

Quando a velocidade das marginais baixou:

— Como assim? Não entendem o que é via expressa, não?

Aí veio outro prefeito e aumentou a velocidade.

— Será que ele não viu como despencou o número de atropelamentos?

No passado, eu me divertia com a rabugice do Felício.

Quando a corrida começava, dizia algo incontestavelmente positivo só para ver o que ele diria.

— Começou o verão. Que bom, não é Felício?

— Bom pro senhor, que trabalha no ar-condicionado. O ar do táxi quebrou e custa mais caro arrumar do que trocar de carro. Fico parado o dia todo no trânsito nesse calor infernal, sofrendo que nem um camelo.

— Você prefere o inverno, é?

— Deus me livre de frio. Inverno as pessoas saem menos e eu não faturo nada.

Foi na última corrida, semana passada, enquanto Felício explicava porque a economia do País está irreversivelmente indo para o buraco e que, em breve, teremos inveja da Argentina, que me dei conta que Felício não está sozinho.

Quando as redes sociais surgiram, a gente achou que compartilharíamos conhecimento, lembra?

Que nada. As redes só provaram o velho ditado que notícia ruim é que vende. Basta ver tamanha quantidade de posts e tuítes criticando tudo e todos. Aos poucos, nos tornamos todos uns Felícios. E o que chamamos de polarização virou, na verdade, a inédita união do País em torno de um único objetivo: descer o pau.

Tive essa epifania enquanto Felício desfiava seu novelo de más notícias. Confessor que fiquei envergonhado. E decidi mudar. Por isso, conclamo você, brasileiro, a se unir ao Movimento Antifelícios. Nossa missão será colecionar boas notícias e compartilhar com nossos amigos nas redes sociais e na vida real. Vamos colocar nossos óculos cor-de-rosa e sair por aí na contramão do mau humor. O primeiro que encontrar alguma coisa boa para contar avisa os outros. Combinado?

Todos nós temos um taxista como o Felício em nossas vidas. Para eles, nada nunca está bom. Por isso, convoco uma frente articulada e positiva para derrotar essa gente azeda