Movimento anti-vacinas: a internet amplificou a voz dos imbecis

Movimento anti-vacinas: a internet amplificou a voz dos imbecis

Sei que há muita gente no mundo que recusa a se vacinar, mas confesso que essa decisão me deixa cada vez mais surpreso. O que acho mais impressionante é que esse número é alto não apenas em países onde a maioria da população é ignorante e sem acesso à informação, mas em lugares onde se esperava que a boa educação produzisse seres humanos minimamente pensantes. Gente que consegue estabelecer uma relação entre ato e efeito, causa e consequência. Mas não é isso que acontece. Há imbecis por toda a parte.

Países como França, Alemanha e Holanda têm índice de vacinação relativamente baixo, o que considero surpreendente. Populações com alto índice social e educacional se recusam a seguir o que a ciência recomenda, colocando suas vidas e de suas famílias em risco. Por que isso acontece? O que passa na cabeça dessas pessoas?
Será que não conseguem perceber que os números da pandemia melhoram na medida em que as pessoas se vacinam? Não me parece algo tão difícil de entender.

É uma pergunta retórica, sem resposta, porque nem mesmo eles conseguem verbalizar o que os faz tomar essa decisão. Sei que é uma decisão política, embora eu não consiga entender qual vertente política seria capaz de induzir seres humanos a correr risco de vida apenas para provar um ponto. Tem que ser muito político para se arriscar a morrer para provar que os cientistas estão errados.

Quando a ciência recomenda que façam um transplante de fígado ou uma operação de catarata, dois exemplos aleatórios, essas pessoas aceitam as opiniões médicas de bom grado, sem discussão. Quando seus filhos ficam doentes, vão a farmácias e compram os remédios indicados pelo médico. Por que então, essa mesma ciência, quando recomenda que se vacinem para evitar o contágio do coronavírus, não é seguida?

Minha opinião é que a resposta pode ser resumida a uma frase de Humberto Eco: “a internet deu voz a uma legião de imbecis. O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade.” Concordo com o escritor italiano. Antes, alguém que defendia teorias da conspiração absurdas estava confinado à insignificância das relações pessoais com outros malucos, aquela meia dúzia de lunáticos fracassados que se reúnem em algum bar qualquer. Agora essas mesmas pessoas podem ser ouvidas por milhões, pois podem obter a mesma visibilidade que um cientista respeitado. Para isso, basta ser replicado por milhões de robôs manipulados por outros imbecis, ao custo irrisório de alguns dólares.

Em um post no Facebook ou em um vídeo no Youtube, a teoria da conspiração de um imbecil tem o mesmo valor midiático que uma palestra de um cientista que ganhou o prêmio Nobel. Por que alguém confia em um estranho falando sobre um assunto sobre o qual não tem nenhum preparo em vez de ouvir um cientista que passou sua vida no laboratório estudando profundamente um assunto? Eu realmente não consigo entender. Desconfio que seja o poder do charlatanismo, onde os trouxas sempre caem no golpe do trambiqueiro de plantão.

Quando um empresário quer construir um prédio, o que faz? Contrata um engenheiro. Por que não chama algum “especialista da internet”, com um canal no Youtube onde demonstra uma teoria original sobre a relação entre concreto, pilares e vigas? Porque sabe que ouvir um idiota sobre isso significa que o prédio vai cair e todos vão morrer.

Quando alguém quer fazer uma viagem de avião, por que procura uma companhia aérea de verdade, com um piloto de verdade, que estudou para fazer aquilo, e não entra em um veículo voador feito na garagem de um “especialista da internet”? Porque sabe que o veículo cairá e todos a bordo morrerão. Os exemplos poderiam ser apresentados ad aeternum. Por que será, então, que na hora que uma pessoa aparentemente normal precisa cuidar da saúde da sua família, ouve “especialistas da internet”? Não faz sentido.

Quer resolver uma equação matemática? Chame um matemático.

Quer investir suas economias? Consulte um especialista em investimento.

Quer se informar sobre determinado assunto? Abra um jornal ou uma revista.

Quer ser um imbecil? Acredite nos especialistas da internet. Você pode não concordar com Humberto Eco, mas os hospitais mostram que, inevitavelmente, terá de encarar Charles Darwin antes do que imagina.