Yuri Dojc é um fotógrafo esloveno que mora no Canadá. Katya Krausova é uma cineasta, também eslovena, que acompanhou Dojc em sua odisseia em busca dos traços de seus antepassados no país natal de ambos, registrando os últimos testemunhos da cultura judaica na Eslováquia. O resultado desse esforço conjunto é exibido, a partir hoje, para convidados (e amanhã, para o público), na exposição Last Folio – Preservando Memórias, que já percorreu 15 países desde 2009 e chega à Unibes Cultural com patrocínio do grupo internacional de mídia Bertelsmann, marcando o primeiro ano de atividades da entidade sob direção de Bruno Assami.

São 57 imagens selecionadas pelo próprio fotógrafo e pela cineasta, conhecida diretora independente da televisão britânica, que, em 1997, recebeu o Oscar pela produção do longa Kolya, dirigido por Jan Sverák. Kolya é um drama terno sobre um músico solteiro que casa com uma russa em troca de dinheiro, ficando responsável por seu filho de 5 anos quando ela foge para a Alemanha Ocidental (o filme se passa durante o regime comunista).

Essa história não diz respeito só à mãe do garoto do filme. Tanto Yuri como Katya também deixaram a Checoslováquia em 1968, quando os tanques soviéticos tomaram Praga. O fotógrafo refugiado se estabeleceu em Toronto. Katya foi para Londres. Encontraram-se para rodar um filme e rastrear os últimos sobreviventes que escaparam dos nazistas, o primeiro deles uma mulher chamada Ruzena Vajnorská, que Yuri conheceu no funeral de seu pai, em 1997.

Apontando a foto de Ruzena na exposição, a cineasta Katya Krausova conta sua história, a de uma vidente que lia o destino das pessoas nas mãos e anteviu seus últimos dias amparada por um anjo. “Isso de fato aconteceu, pois ela, que costumava visitar os sobreviventes do Holocausto, oferecendo um pouco de conforto, foi cuidada na velhice por esse anjo.”

Antes, Ruzena fez o mesmo papel, guiando Yuri pelas ruínas de Bardejov, uma cidade da Eslováquia próxima à fronteira com a Polônia tomada pelos soviéticos em 1945. De lá partiu, em 1942, o primeiro trem para o campo de extermínio de Auschwitz. Ruzena estava nesse trem. A primeira frase que diz no documentário da diretora resume tudo: “Você precisa saber que eu era kapo, uma controladora em Auschwitz”, diz, explicando como sobreviveu naquele inferno criado pelos nazistas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.