Conhecer o mundo, as pessoas por meio da imagem. Registrar seus momentos, ouvir suas vozes e também lhes dar voz. Fotografias dialógicas em que percebemos claramente a troca de olhares e de experiências. Essa é a impressão que se tem quando se percorre o trajeto criativo da fotógrafa norte-americana Susan Meiselas, de 71 anos, na exposição Mediações, que será aberta nesta terça-feira, 15, no Instituto Moreira Salles da Avenida Paulista. Trabalhos que se aprofundam, que não apontam, mas apresentam: “Acredito no fotojornalismo, em trabalhos aprofundados, na cultura visual”, afirma Susan.

Assim foi na primeira série Rua Irving, 44, na qual retratou os moradores da pensão onde morava, nos Estados Unidos. Estética que vamos reencontrar na sua famosa série Strippers de Festivais. Durante três verões consecutivos, de 1972 a 1975, fotografou na Nova Inglaterra. São os momentos gloriosos do fotojornalismo, os anos 1970, mas, mesmo assim, parece que isso não bastava para Susan. Era preciso ouvir, gravar entrevistas, tentar compreender todo o entorno desses festivais.

Muito antes das múltiplas plataformas possíveis para contar uma história, ela já sentia necessidade de completar a narrativa: “Nem sempre conseguia ou achava necessário, mas, na medida do possível, queria ouvir as pessoas sobre o meu trabalho e sobre o trabalho delas”, relata. Também voltou seu olhar para a violência doméstica, Arquivos de Abusos realizado em 1992, resultou numa campanha fixada pelas ruas da Califórnia, onde se juntavam, em forma de colagens, fotografias de cenas de crimes e relatórios policiais. Em Um Quarto para Elas, de 2015, apresentaram mulheres que sobreviveram ao abuso doméstico, no Reino Unido.

E foi sempre assim sua maneira de trabalhar, talvez antes de mais nada, Susan Meiselas é jornalista e entende a importância de contar histórias que devem e merecem ser vistas e, por que não, ouvidas. E foi, mais uma vez, com tal espírito, e como integrante da agência Magnum, que ela, aos 30 anos, em 1978, desembarcou na Nicarágua para cobrir a Revolução Sandinista. Acompanhou a derrubada do ditador Anastasio Somoza, registrou a guerrilha, o levante popular, as festas da vitória. Também esteve na guerra civil em El Salvador, na mesma época.

Na mostra, essa reportagem é acompanhada por páginas de revistas nas quais as fotos foram publicadas e de que modo elas foram divulgadas, além de um vídeo realizado anos mais tarde, Reinquadrando a História, feito em parceria com o cineasta e escritor americano Alfred Guzzetti, em 2004, quando se completaram os 25 anos da insurreição.

E foi nessa cobertura que uma de suas fotografias se tornou a representante daqueles anos: O Homem-Molotov. O sandinista Pablo de Jesus ‘Bareta’ Araúz foi imortalizado nesse registra do momento exato em que se preparava para lançar um coquetel molotov, imagem que se tornou o símbolo definitivo da revolução. Uma fotografia que conseguiu exprimir o espírito daqueles anos turbulentos na Nicarágua e que, após ter se tornado pública, escapou das páginas impressas e artistas e comunicadores se apropriaram dela e a ressignificaram em cartazes, camisetas e pinturas.

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Em sua série Curdistão, na qual trabalhou por 16 anos, de 1991 a 2007, ela mergulhou no cenário curdo ao tentar compreender aquele povo após a tentativa de genocídio ordenada pelo ex-ditador do Iraque, Saddam Hussein. Somente a história do ataque não daria ao mundo a noção do que tinha acontecido. Voltou no tempo, reuniu documentos históricos, depoimentos dos sobreviventes, tentou descobrir de onde vinham aquelas pessoas e por que estavam sendo tão duramente massacradas.

Com mais de 180 fotografias, videoinstalações, cartas e documentos, a exposição, já apresentada em Barcelona, Paris e São Francisco, mergulha na história do mundo e é a reafirmação da importância do fotojornalismo como reflexão: “Existem várias formas de contar uma história, diferentes testemunhos, múltiplas maneiras de se relacionar com a fotografia”, complementa Susan Meiselas.

SUSAN MEISELAS – MEDIAÇÕES

IMS PAULISTA

AV. PAULISTA, 2.424, TEL. 2842-9120

ABERTURA 3ª (15/10), 18H. 3ª A DOM. E FER., 10H/20H. 5ª, 10H/22H. ATÉ 1º/3

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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