A 47ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chega ainda mais forte do que em 2022. Tendo reatado os laços com a Petrobras entre os patrocinadores, o evento aumentou consideravelmente o número de filmes selecionados e investiu em retrospectivas prestigiosas, com foco na exibição de 23 obras do italiano Michelangelo Antonioni. Veja abaixo a lista com todos os títulos.

A presença do cineasta atravessa todo o evento: uma ilustração de sua autoria, realizada nos anos 1960, serve como base para o cartaz deste ano, enquanto um roteiro inédito do autor, intitulado Tecnicamente Doce, será apresentado em leitura ao público.

“A retomada das retrospectivas pela Mostra, ainda mais uma complexa, como do Antonioni, custa muito. Fomos atrás de cópias restauradas em diversos lugares, o que demanda uma longa dedicação. Trabalhamos nisso desde o ano passado”, explica Renata de Almeida, diretora da Mostra. “Antonioni é um dos marcos do cinema moderno”

Renata de Almeida

“A influência dele pode ser vista do cinema iraniano às séries como White Lotus, que faz referência a L’Avventura. O cinema de hoje bebe muito desta fonte, de maneira antropofágica. Vivemos a época da hipercomunicabilidade, mas isso se transforma ironicamente numa dificuldade de comunicação. Existe uma angústia, inclusive da juventude, que passa muito tempo nas redes, mas tem dificuldade de se expressar. Um impasse parecido ocorreu no final da Segunda Guerra, quando Antonioni começou a produzir. Esta angústia já atravessava o cinema dele”, completa Renata.

Desta vez, certa de 350 títulos serão apresentados ao público na capital paulista entre os dias 19 de outubro e 1º de novembro. Como de costume, as atenções se voltam aos filmes recompensados nos festivais de Cannes, Veneza e Berlim. Neste sentido, o público está bem servido com sessões do vencedor do Urso de Ouro, o documentário Sur l’Adamant, de Nicolas Philibert, e da comédia dramática Afire, de Christian Petzold, premiada com o Grande Prêmio do Júri em Berlim.

De Cannes, chegam Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet (Palma de Ouro), Fallen Leaves, de Aki Kaurismaki (Prêmio do Júri) e Ervas Secas, de Nuri Bilge Ceylan (Prêmio de Melhor Atriz), além dos bem-recebidos La Chimera, de Alice Rohrwacher, e Juventude (Primavera), de Wang Bing. Já o festival de Veneza é representado por filmes como a aguardada biografia Maestro, dirigida e estrelada por Bradley Cooper, e o controverso The Beast, de Bertrand Bonello.

Para os cinéfilos interessados no Oscar 2024, vale se atentar a diversas produções que representam seus países na busca pela estatueta de melhor filme internacional. Entre elas estão títulos escolhidos por Bósnia e Herzegovina (Excursão, de Una Gunjak), Bulgária (Lições de Blaga, de Stephan Komandarev), Chile (Los Colonos, de Felipe Galvéz), Estônia (Irmandade da Sauna a Vapor, de Anna Hints), Holanda (Bons Sonhos, de Ena Sendijarevic), Lituânia (Slow, de Marija Kavtaradze), Peru (A Ereção de Toribio Bardelli, de Adrián Saba), Romênia (Do Not Expect Too Much From the End of the World, de Radu Jude), Suécia (Oponente, de Milad Alami) e Ucrânia (20 Dias em Mariupol, de Mstyslav Chernov).

Os filmes brasileiros também integram a seleção dos títulos prestigiados em festivais internacionais. A Flor do Buriti, de João Salaviza e Renée Nader Messora, foi recompensado com o Prêmio de Melhor Equipe na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes. Já Estranho Caminho, de Guto Parente, será apresentado ao público brasileiro após vencer todos os prêmios possíveis do Festival de Tribeca – a primeira vez que tal unanimidade ocorreu no evento norte-americano.

Destacam-se igualmente O Estranho, de Flora Dias e Juruna Mallon, exibido em Berlim; Meu Casulo de Drywall, de Caroline Fioratti, selecionado no SXSW, e Sem Coração, de Nara Normande e Tião, aclamado no Festival de Veneza.

Mas a produção brasileira não vive apenas de recompensas internacionais. Os espectadores descobrem na programação os novos filmes dirigidos por cineastas de renome como André Novais Oliveira (O Dia que te Conheci), Clara Linhart (Eu Sou Maria), Cristiane Oliveira (Até que a Música Pare), Fábio Meira (Tia Virgínia), Helena Ignez (A Alegria É a Prova dos Nove), Lúcia Murat (O Mensageiro), Luiz Fernando Carvalho (A Paixão Segundo G.H., baseado em Clarice Lispector) e Petrus Cariry (Mais Pesado É o Céu).

“Temos uma seleção brasileira forte”, pontua a diretora da Mostra. “Grandes mestres estão presentes, como Helena Ignez e Júlio Bressane, que recebe uma homenagem. Eles estão ao lado dos novos diretores, como André Novais Oliveira e Guto Parente. Isso reflete o trabalho da Mostra, que faz reverência aos mestres, com homenagens e apresentações, ao mesmo tempo em que traz a competição para novos diretores, e se preocupa em revelar novos nomes. Muitos cineastas fora do eixo São Paulo-Rio estão representados esse ano”, diz Renata.

De fato, entre as apresentações especiais, o espectador pode mergulhar no monumental A Longa Viagem do Ônibus Amarelo, de Júlio Bressane e Rodrigo Lima, com mais de sete horas de duração; no clássico soviético Um Homem com uma Câmera, de Dziga Vertov, ou no marco do cinema brasileiro representado por Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry.

Uma das belezas da Mostra reside justamente na capacidade de abraçar as mais diversas formas de cinefilia e expressão artística. Há opções para quem estiver concentrado no Oscar, em Cannes, no novíssimo cinema brasileiro e nas obras mudas da década de 1920.

Haverá, ainda, a primeira edição do Prêmio Netflix. “A premiação vai selecionar e adquirir os direitos de distribuição de um filme brasileiro de ficção participante da Mostra deste anoq ue ainda não tenha sido negociado com alguma plataforma de streaming. O filme vencedor do Prêmio Netflix será exibido pela Netflix em mais de 190 países”, informou a plataforma em comunicado neste sábado, 7.