Moscou pede que Tóquio reconheça soberania russa sobre Ilhas Curilas

Moscou pede que Tóquio reconheça soberania russa sobre Ilhas Curilas

A Rússia alertou o Japão que não haverá progressos na disputa territorial que atormenta suas relações desde o final da Segunda Guerra Mundial, enquanto Tóquio não reconhecer a soberania russa sobre quatro ilhas do arquipélago das Curilas.

A questão das quatro ilhas vulcânicas do sul do arquipélago, chamadas de Territórios do Norte no Japão, impediu que os dois países assinassem um tratado de paz e dificulta sua reaproximação econômica nos últimos anos.

Tóquio considera oficialmente estas quatro ilhas anexadas pela URSS em 1945 como pertencentes ao território japonês.

Em novembro, Vladimir Putin e Shinzo Abe concordaram em Singapura em acelerar as negociações com base em uma declaração de 1956, mas sua interpretação por Tóquio provocou a ira de Moscou.

O Kremlin anunciou em comunicado que Putin e Abe vão-se reunir em 22 de janeiro, em Moscou.

Antes desse encontro, o ministro das Relações Exteriores do Japão, Taro Kono, foi recebido em uma reunião de várias horas, nesta segunda, em Moscou, por seu colega russo, Serguei Lavrov. No final, o chanceler russo apontou “discrepâncias significativas” entre ambas as partes.

“Confirmamos que estamos prontos para trabalhar com base na declaração de 1956, o que significa, acima de tudo, o caráter indiscutível, desde o início, do reconhecimento pelos nossos vizinhos japoneses do balanço da Segunda Guerra Mundial em sua totalidade, incluindo a soberania da Rússia sobre todas as ilhas”, explicou.

A declaração de 1956, que restabeleceu relações diplomáticas entre o Japão e a União Soviética, menciona a restituição de duas das quatro ilhas para o Japão, mas apenas quando um tratado de paz for assinado. Este texto foi anulado pela URSS em 1960, após a assinatura de um tratado de cooperação entre Tóquio e Washington.

Com base nisso, Shinzo Abe disse, durante seu discurso de Ano Novo, que os habitantes russos das ilhas disputadas tinham de se preparar para “uma mudança de soberania” e que o ano de 2019 veria a assinatura de um tratado de paz. O anúncio irritou a Rússia.

Na semana passada, o embaixador japonês em Moscou foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores.

Moscou insiste em que sua posição é imutável e que o Japão deve primeiro aceitar as consequências da Segunda Guerra Mundial, incluindo a soberania da Rússia sobre as ilhas.

“Esta é nossa posição e, sem avanço nessa direção, é muito difícil esperar algum progresso em outras questões”, insistiu Lavrov, que se mostrou particularmente irritado com declarações públicas de membros do partido de Shinzo Abe de que os Estados Unidos deveriam participar das negociações para um tratado de paz entre Rússia e Japão.

As quatro ilhas em disputa são as mais próximas do Japão, de uma longa cadeia de pequenas ilhas vulcânicas que vão da península russa de Kamchatka à grande ilha japonesa de Hokkaido.

Ricas em minerais e peixes e garantidoras do acesso da frota russa ao Oceano Pacífico, estas ilhas – Iturup (Etorofu, em japonês transliterado), Kunashir (Kunashiri), Shikotan e Habomai – fazem parte atualmente da região russa de Sakhalin, no Extremo-Oriente.

Para o Japão, porém, ainda dependem da prefeitura de Hokkaido e estão “ilegalmente ocupadas pela Rússia”.