22/09/2016 - 7:45
Após 23 anos de ações que buscam a despoluição do Rio Tietê no Estado de São Paulo, um trecho de 137 km permanece com qualidade da água ruim ou péssima. Nessa mancha de poluição – um pouco maior que a distância entre São Paulo e Taubaté -, o rio está praticamente morto.
O número, que será divulgado nesta quinta-feira, 22, pela Fundação SOS Mata Atlântica, apresenta uma leve melhora em relação à situação do ano passado, mas ainda é pior que o período anterior à crise hídrica. O monitoramento, realizado em 302 pontos de coleta d’água em rios que compõem as bacias hidrográficas do Alto e Médio Tietê, apontou uma redução de 11,5% da mancha de poluição entre agosto do ano passado e julho deste ano.
No auge da crise hídrica, entre setembro de 2014 e agosto de 2015, o trecho em que o rio foi considerado morto tinha mais que dobrado de tamanho em relação ao período anterior, chegando a 154,7 km. Em parte por causa da estiagem e em parte porque houve uma redução das obras de saneamento.
Mesmo com a redução atual de 17,7 km, a mancha anaeróbica (sem oxigênio) ainda supera em 92% a menor extensão de poluição já obtida no rio – de 71 km entre 2013 e 2014. De acordo com Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas, o retorno das chuvas ajuda a diluir a mancha de poluição, principalmente na região mais próxima à cabeceira do rio, mas também carrega para dentro dele um volume maior da chamada poluição difusa, em especial na região metropolitana e no médio Tietê.
Isso está diretamente ligado, explica a ambientalista, à cobertura vegetal das margens dos rios – ou à falta dela. “Pela primeira vez na história do monitoramento (que é feito desde 1993) estamos associando a qualidade da água não somente à questão do saneamento básico, que ainda não está boa, mas também ao uso do solo no entorno”, afirmou Malu ao jornal O Estado de S. Paulo. A presença de mata ciliar protege rios e córregos do lixo carregado pela chuva e de erosão.
Ocupação de mananciais
Segundo ela, no período analisado, houve um aumento da ocupação de áreas de manancial por movimentos de moradia. “Perdemos áreas protegidas estratégicas. Se houve algum ganho de aumento do tratamento de esgoto no Estado, perdemos essa vantagem com as ocupações. Com elas vêm o desmatamento e o despejo de lixo e esgoto nos corpos d’água.”
Ainda de acordo com Malu, as ocupações se deram de maneira generalizada em toda a faixa entre as Rodovias Fernão Dias e Ayrton Senna. Ela lembrou também as ocupações no entorno da Billings, como o Parque dos Búfalos. Segundo ela, a qualidade da água ali, que tinha ido de boa a regular no ano passado, agora caiu para ruim.
Malu destacou ainda piora da qualidade da água na zona leste e na região de Guarulhos, que tem sistema próprio de saneamento. Para ela, nesse ritmo, nem em mais 20 anos se alcançará a despoluição do rio.
Por meio de nota, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) afirmou que o processo de despoluição do Rio Tietê é gradual e depende não apenas das ações da companhia, mas também de outros municípios, como Guarulhos. E lembrou que hoje 87% do esgoto é coletado e 68%, tratado, e a terceira fase do Projeto Tietê foi iniciada em 2010 e está em andamento. Já o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Guarulhos disse que está em andamento uma parceria público-privada para atingir 100% de tratamento do esgoto da cidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.