Dener está de volta, 22 anos após falecer em um acidente de carro no Rio de Janeiro no auge da carreira. Não é obra da ciência. É o milagre da literatura. Saiu do prelo a primeira biografia do craque: “Dener – o Deus do Drible”. Tudo em caixa alta: Dener, Deus e Drible.

Quem usa essa imagem do retorno é o próprio autor, o filósofo e historiador Luciano Ubirajara Nassar. “Dener nunca foi reconhecido como deveria. Agora está eternizado pela literatura e tenho certeza que virão outros livros sobre ele. É a sua volta”, disse o escritor de “Rei Enéas, um gênio esquecido” e “Julinho Botelho, um herói brasileiro”.

O ex-técnico Pepe, que trabalhou com o meia no início dos anos 1990, crava que Dener foi melhor que Robinho e do mesmo nível de Neymar. O “Canhão da Vila” ensina que as posições são diferentes. Neymar cai pelos lados do campo; Dener pegava a bola na linha central e ia enfileirando os rivais com dribles em ziguezague. Era um craque com repentes de Pelé. “Sem técnica e habilidade, a bola não tem graça”, afirmou o craque.

Deste jeito, driblando em direção à meta, fez o gol mais bonito da história do estádio do Canindé, em São Paulo. Foi contra a Internacional, de Limeira (SP). Outro tento histórico foi feito contra o Santos em 1993, quando driblou três, além do goleiro Edinho, o filho de Pelé, antes de marcar.

A breve carreira começou em 1991, na própria Portuguesa. Dois anos depois, foi campeão gaúcho pelo Grêmio. No ano seguinte, levantou a Taça Guanabara (primeiro turno do Campeonato Carioca) pelo Vasco. Ele era o mais alto investimento da equipe para buscar o tri carioca de 1994 e estava no radar do técnico Carlos Alberto Parreira para a seleção brasileira que seria tetra nos Estados Unidos.

Ironicamente, a sua morte ocorreu dias após uma reunião entre Portuguesa e o alemão Stuttgart para tratar de uma possível transferência. Ele não estava ao volante e morreu dormindo. O saudoso jornalista Armando Nogueira escreveu que Dener driblaria a morte se estivesse acordado na hora da batida.

O livro resgata a sintonia fina do negro franzino de bigode ralo e canelas finas com as arquibancadas. “Pela etnia, história de vida, ligação com o samba e o drible, ele representava o povo brasileiro”, disse Nassar. O olhar do escritor tem a malícia de quem jogou bola. Nassar foi atacante de Linense-SP, Campinense-PB e até do Andene, da Bélgica. Ele conviveu com Dener.

Para a família, o livro também representa um tipo de revival. “Não sei explicar direito. A sensação que eu tenho é de ele não faleceu”, contou a viúva Luciana Gabino. Todos os três filhos tentaram a carreira no futebol, mas acabaram desistindo. À época, diziam que todos só falavam do pai, fazendo comparações. É isso que o livro pretende: que todos voltem a falar de Dener.