Morte de Uribe repete violência política colombiana das décadas de 80 e 90; relembre

Morte de Uribe repete violência política colombiana das décadas de 80 e 90; relembre

O senador e pré-candidato à presidência da Colômbia, Miguel Uribe Turbay, morreu na segunda-feira, 11, após mais de dois meses hospitalizado. Ele havia sido vítima de um atentado em junho de 2025, quando foi baleado na cabeça e na perna enquanto discursava em Bogotá.

O episódio mobilizou autoridades dos Estados Unidos, que atribuíram a violência à “retórica” do atual governo. Já o presidente Gustavo Petro condenou o uso político do atentado e sugeriu que a ação poderia ter sido orquestrada para desestabilizar seu governo.

A morte de Uribe, favorito da direita para as eleições presidenciais de 2026, remete à violência colombiana das décadas de 1980 e 1990, época marcada diversas tentativas de assassinato contra políticos. Mesmo antes de ser alvo dos disparos, Miguel Uribe teve a vida manchada pela hostilidade que regia no país: quando tinha apenas 5 anos de idade, a mãe dele, jornalista e apresentadora Diana Turbay, foi sequestrada e morta por narcotraficantes associados a Pablo Escobar.

Neste texto, a IstoÉ relembra os principais casos de assassinatos de políticos na Colômbia, com visão sobre o contexto histórico que regia nas décadas de 1980 e 1990.

+ Ex-presidente da Colômbia, Uribe é condenado a 12 anos de prisão

Contexto histórico

Múltiplos fatores colaboraram para o crescimento de atentados contra figuras públicas na Colômbia dos anos 80 e 90. Aquele apontado como um dos principais motivos foi a ascensão de cartéis de drogas, com destaque para o de Cali e de Medellín – sendo o último liderado por Pablo Escobar. Essas organizações criminosas conquistaram tanto espaço no país que chegaram a ter poder econômico e militar comparável ao do próprio Estado.

Outro catalisador foi o tratado de extradição com os Estados Unidos. Para narcotraficantes, ser extraditado era uma sentença de morte ou prisão perpétua – em condições muito mais severas que as colombianas. Em uma guerra pública contra o governo, eles tinham como lema: “Preferimos um túmulo na Colômbia a uma cela nos Estados Unidos”.

Por fim, ainda houve forte presença de grupos guerrilheiros de inspiração marxista-leninista como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército de Libertação Nacional (ELN). Essas associações já atuavam no país desde a década de 1960, mas intensificaram as ações nas décadas seguintes.

Lista de atentados da décadas de 1980 e 1990:

Rodrigo Lara Bonilla

Talvez reconhecido como o assassinato que iniciou a guerra aberta entre Estado e narcotraficantes, Rodrigo Lara Bonilla era advogado e atuava como Ministro da Justiça durante o governo de Belisario Betancur quando foi morto.

Ele ficou conhecido pela luta contra o narcotráfico, especialmente contra o Cartel de Medellín, liderado por Pablo Escobar. Bonilla foi abatido abatido em 30 de abril de 1984 justamente por sicários de Escobar, após deixar o Ministério da Justiça.

Luis Carlos Galán Sarmiento 

Luis Carlos Galán Sarmiento era candidato e grande favorito à presidência da Colômbia em 1989. Sua principal bandeira era o combate ao narcotráfico e a firme defesa do tratado de extradição de traficantes para os Estados Unidos.

O assassinato ocorreu durante um comício de campanha em Soacha, município vizinho à Bogotá. Diante de milhares de apoiadores, Galán subiu ao palco e, quando levantou os braços para cumprimentar a multidão, foi alvejado por tiros de metralhadora. A morte foi atribuída, mais uma vez, a Pablo Escobar.

Jaime Pardo Leal

Jaime Pardo Leal era advogado, ex-juiz e o líder da União Patriótica, partido que surgiu dos acordos de paz entre o governo do presidente Belisario Betancur e a guerrilha das FARC em 1984.

A morte dele foi um crime anunciado, uma vez que a violência contra a UP era constante e sistemática. Pardo Leal já havia recebido muitas ameaças de morte e, no dia do assassinato, dispensou os seguranças, mantendo apenas um guarda-costas. Voltando de uma fazenda em La Mesa, homens em um carro atiraram contra ele, que morreu no hospital antes de receber atendimento.

Bernardo Jaramillo

Bernardo Jaramillo era um advogado e senador, conhecido pela tentativa de modernizar a União Patriótica e distanciar o partido da influência direta da guerrilha das FARC.

Ele era o candidato presidencial da UP para as eleições de 1990 e também denunciava publicamente as alianças entre paramilitares, narcotraficantes e setores das forças estatais, o que lhe rendeu diferentes inimigos.

Jaramillo estava no aeroporto para embarcar em um voo para Santa Marta, em 22 de março de 1990. Enquanto caminhava acompanhado por sua esposa e múltiplos guarda-costas, um jovem sicário de apenas 16 anos aproximou-se e disparou tiros de metralhadora contra ele.

Carlos Pizarro Leongómez

Carlos Pizarro foi o comandante máximo do Movimento 19 de Abril (M-19), uma das guerrilhas mais conhecidas Colômbia. No entanto, ele liderou o M-19 em um processo histórico de negociação e certa conciliação. Após assinar a paz, Pizarro lançou-se como candidato à presidência pela Aliança Democrática M-19 (AD-M-19), o novo partido político do grupo.

Na manhã de 26 de abril de 1990, Pizarro embarcou em um voo até Barranquilla, onde tinha agendado um evento de campanha. Passageiro do mesmo avião, um jovem sicário paramilitar disparou fatalmente contra o político, que estava sentado em sua poltrona.

Álvaro Gómez Hurtado

Álvaro Gómez Hurtado era advogado, jornalista, artista e um dos intelectuais mais respeitados do Partido Conservador. Filho do ex-presidente Laureano Gómez, foi candidato à presidência em três ocasiões. Em 1995, era um forte opositor do governo de Ernesto Samper, que enfrentava acusações de que sua campanha presidencial havia sido financiada pelo cartel de Cali.

Na manhã de 2 de novembro, com então com 76 anos, Goméz deixava a Universidade Sergio Arboleda quando foi surpreendido por um grupo de sicários, que atiraram contra o carro do político. Ao longo dos anos, familiares apontavam participação do Estado na execução.