Uma piada recente diz que só existe uma diferença entre a seleção brasileira, eliminada de forma vergonhosa na Copa do Catar, e a seleção argentina, campeã mundial: os hermanos são jogadores de futebol, enquanto os brasileiros são celebridades.

Lembrei dessa piada quando li os primeiros comentários sobre a ausência dos craques brasileiros no velório e no enterro de Pelé, o maior jogador de todos os tempos. Realmente foi uma coisa que chamou a atenção, pelo absurdo: por que será que praticamente nenhum deles compareceu à despedida daquele que foi o maior de todos os ídolos do nosso futebol?

Talvez eles se achem tão bons que não possam ter ídolos, ou talvez se achem superiores a Pelé. Não são. Suas desculpas foram tão patéticas que teria sido melhor se tivessem ficado calados. Afinal, assim como Romário disse sobre Pelé em 2005, que ele “calado era um poeta”, o mesmo serve para seus colegas – e, principalmente, para o próprio Romário, uma vez que, como senador pelo Rio de Janeiro, já acumula mais bobagens no plenário do que gols na carreira.

Cafu, o capitão do Penta, disse que estava na Alemanha e não conseguiu comprar passagem para o Brasil. Coitado. Uma tristeza mesmo. Pelé morreu no dia 29 de dezembro, seu enterro foi só na terça-feira, 3 de janeiro. Dá para acreditar que os voos Frankfurt – São Paulo estavam todos esgotados tão perto da noite de Réveillon? Os alemães estavam loucos para passar o ano novo na Avenida Paulista? Ah, claro. É bastante provável. E vamos combinar: Cafu teria enorme dificuldade financeira para alugar um jatinho e vir prestar a homenagem, pessoalmente, como capitão do penta, ao maior campeão da história das copas.

Rivaldo, outro pentacampeão, disse que “não gosta de fazer homenagens nessa hora” e que preferia “homenageá-lo em vida”. Curioso lembrar que Rivaldo, que estava na Copa do Catar, não fez nenhuma questão de ir ao evento que a FIFA realizou em homenagem a Pelé… “em vida”.

Já Kaká disse recentemente que o brasileiro não tem respeito pelos seus ídolos. “Ronaldo é só mais um gordo andando pela rua”, declarou, achando que estava sendo simpático com o colega. Agora sabemos que Kaká estava certo – e também entendemos por que os brasileiros agem assim. Talvez se Gianni Infantino, italiano, presidente da FIFA, que veio ao velório, tivesse oferecido uns cachês, Ronaldo e Kaká seriam só um gordo e um magro andando pela rua… de Santos.

Mas a melhor desculpa foi a do goleiro Marcos, que rebateu as críticas de uma maneira ligeiramente confusa: “ninguém aqui das redes foi no velório dos meus pais, que eram reis dessa terra para mim”. Humm, pensando aqui. Por que alguém iria ao velório dos pais de Marcos? Eles também foram grandes jogadores? O Pelé deveria ter ido no velório e não foi? O raciocínio é difícil de acompanhar.

Já Neymar, aquele que recebeu, por coincidência, dois cartões amarelos no último jogo do ano e folgou no Réveillon, demonstrou o caráter de sempre: mentiu que o PSG havia proibido que ele viesse ao Brasil. Foi desmentido pelo clube, mas quem liga? O que é Pelé perto da festa que ele deu em Paris para os seus parças?

Essa história toda me deixou aliviado por uma única razão: esses jogadores, com toda sua glória e empáfia, não fizeram a menor falta. O povo, que é quem importa, esteve no velório e no enterro, saudando o grande herói que Edson Arantes do Nascimento foi.

Sempre achei incrível saber que Pelé nasceu na cidade mineira de Três Corações. Esses corações poderiam ser estrelas – 1958, 1962 e 1970. E acho que, apesar de rei, ele não tem de ser chamado de Sua Majestade.

Somos brasileiros, como ele.

Pelé é Nossa Majestade.

Não gosto de fazer comparações, mas vale lembrar que, quando Maradona morreu, todos os principais craques argentinos compareceram – e olha que estávamos no auge da pandemia. Mas é que há uma diferença: os argentinos são jogadores de futebol, os brasileiros são celebridades. Pensando bem, talvez isso não seja uma piada.