ROMA, 2 DEZ (ANSA) – As homenagens feitas ao craque Diego Armando Maradona, morto no último dia 25 de novembro, têm causado divisão no movimento feminista argentino. Isso porque, fora dos gramados, o ex-jogador, considerado um dos melhores da história do futebol, tinha uma relação com as mulheres descrita como “sexista”.

Paula Dapena, jogadora de um time que disputa a segunda divisão do Campeonato Espanhol Feminino, não respeitou um minuto de silêncio pelo argentino ao se sentar no gramado no sentido contrário da homenagem.

Na ocasião, a atleta do Viajes Interrías reclamou que essas homenagens “não foram feitas” para as mulheres vítimas da violência de gênero. Ela ainda disse que não estava “disposta a fazer para um agressor”.

Dapena recebeu mensagens de apoio nas redes sociais, além de críticas e ameaças de morte. O gesto da jogadora incrementou o debate que dividiu a “frente” do movimento feminista na Argentina.

“Aquele feministômetro inquisidor que não pode aceitar que o país se despede de um ídolo popular, que reivindicou sua origem pobre, que enfrentou os poderosos, que jogou o melhor futebol, não me representa. Não aplaudo que tenha demorado para reconhecer seus filhos e não homenageio sua violência com as ex-companheiras. Eu me emociono em ver Diego com a bola e com a paixão com que sempre jogou com a camisa da Argentina”, escreveu a jornalista argentina e fundadora do movimento Ni Uma Menos, Mariana Carbajal, em um artigo no jornal “Pagina12”.

“É um absurdo que um movimento de emancipação como o feminista esteja cheio de juízas de sentimento popular. Temos o direito e a necessidade de nos emocionar sem culpa”, escreveu em suas redes sociais a comunicadora Claudia Korol, integrante do coletivo Feministas de Abya Yala.

Já a ilustradora Ro Ferrer publicou em suas redes sociais um desenho de uma menina vestindo a camisa da seleção da Argentina que diz “me deixe chorar”.

Sobre as críticas que recebeu, a artista respondeu que Maradona significa a “infância” e a “adolescência” da desenhista.

Maradona já foi denunciado por violência física e psicológica por suas ex-mulheres, além de ter negado por anos reconhecer seus filhos fora dos casamentos.

Em 2014, a ex-namorada de Maradona, Rocío Oliva, gravou um vídeo mostrando que o ex-craque a batia para tirar seu celular. Já a ex-esposa Claudia Villafañe, mãe de suas filhas Dalma e Giannina, denunciou o ídolo em 2019 por cometer violência psicológica.

Já no ano de 2017, uma jornalista russa acusou Maradona de tentar tirar sua roupa e ter oferecido uma quantia em dinheiro para ter relações sexuais com ele.

“Celebrar e aplaudir homens que desrespeitaram os direitos de mulheres e crianças, foram violentos e que exerceram paternidade irresponsável não é feminista, é outra coisa, mas não é feminista”, escreveu a artista trans Michelle Lacroix.

Maradona, que tinha cinco irmãs, se relacionou com Villafañe, que conheceu na adolescência e se casou. Ele também teve como companheiras a napolitana Cristiana Sinagra (mãe de Diego Júnior), Veronica Ojeda (mão do pequeno Diego Fernando) e Oliva, 30 anos mais jovem que o astro e que passou seis anos juntos.

(ANSA).