Dois anos após o crime, Polícia Federal conclui que duplo assassinato foi motivado por atividade promovida por indigenista em defesa dos povos tradicionais e do meio ambiente. Nove foram indiciados, incluindo mandante.A Polícia Federal informou nesta segunda-feira (04/11) que concluiu o inquérito sobre o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorrido em 5 de junho de 2022, nas proximidades da terra indígena Vale do Javari, no oeste do Amazonas.

A investigação aponta que as mortes ocorreram em retaliação às atividades fiscalizatórias promovidas por Bruno Pereira na região. Ele atuava em defesa da preservação ambiental e na garantia dos direitos indígenas.

De acordo com a PF, o relatório foi concluído na última sexta-feira e encaminhado ao Ministério Público Federal.

Em dois anos de investigação, a PF indiciou nove investigados, o que foi confirmado no relatório final. Segundo o documento, o mandante do crime foi o traficante Rubens Villar Coelho, conhecido pelo apelido de "Colômbia", que está preso.

Segundo a PF, ele "forneceu cartuchos para a execução do crime, patrocinou financeiramente as atividades da organização criminosa e interviu para coordenar a ocultação dos cadáveres das vítimas". Os demais indiciados tiveram papéis na execução dos homicídios e na ocultação dos cadáveres, apontou a polícia.

O inquérito revelou, ainda, a atuação do crime organizado na região de Atalaia do Norte, ligado à pesca e caça predatórias. "A ação do grupo criminoso gerou impactos socioambientais, causou ameaças aos servidores de proteção ambiental e as populações indígenas", destacou a PF, em nota.

O Ministério Público Federal, ao apresentar a denúncia, detalhou que os tiros disparados contra as vítimas eram direcionados a Pereira, e que a morte do jornalista britânico teria como objetivo garantir que o crime sairia impune.

Lavagem de dinheiro do tráfico

Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram no Vale do Javari quando viajavam de barco pela comunidade de São Rafael, em direção a Atalaia do Norte. A viagem deveria durar duas horas, mas eles nunca chegaram ao destino.

Bruno era servidor licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e estava constantemente sob ameaça devido ao trabalho que realizava em defesa dos povos indígenas da região contra invasores, incluindo pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais.

Ao lado dele estava Dom, que havia viajado para o local para fazer uma reportagem sobre a área, conhecida por abrigar a maior concentração de indígenas isolados do planeta. Ele morava no Brasil havia 15 anos e tinha vasta experiência em coberturas jornalísticas para veículos como The New York Times, The Washington Post e The Guardian.

Os dois foram vistos pela última vez no dia 5 de junho de 2022, e seus restos mortais foram encontrados dez dias depois. Os corpos apresentavam sinais de queimaduras, desmembramento e tiros. Segundo a perícia da Polícia Federal, Bruno foi alvejado três vezes, com dois tiros no peito e um na cabeça, enquanto Dom foi atingido uma vez, no tórax.

As investigações da PF apontam que "Colômbia", que tem dupla cidadania, brasileira e peruana, usava a venda de peixes e animais capturados pela quadrilha para lavar dinheiro do tráfico de drogas. As substâncias eram produzidas no Peru e na Colômbia e vendidas a facções criminosas brasileiras, segundo a PF.

sf/lf (Polícia Federal, ots)