“Morte aos traidores”, diz assassino de deputada britânica no tribunal

“Morte aos traidores. Liberdade para o Reino Unido”, declarou o suposto assassino da deputada trabalhista Jo Cox ao ser interrogado neste sábado pela primeira vez no tribunal de Westminster, em Londres.

Thomas Mair, de 52 anos, foi acusado de homicídio doloso da deputada de 41 anos, baleada e esfaqueada na quinta-feira em Birstall, norte da Inglaterra.

Em seguida, o homem, algemado e vestindo um agasalho cinza, permaneceu em silêncio quando o juiz perguntou seu endereço e data de nascimento.

Ele foi colocado em detenção na prisão de segurança máxima de Belmarsh, sudeste de Londres, e deve comparecer novamente ante a justiça na segunda-feira, antes do tribunal londrino de Old Bailey desta vez.

A magistrada também ordenou um exame psiquiátrico do acusado.

Jo Cox, mãe de dois filhos, foi atingida por vários tiros antes de ser esfaqueada no meio da rua em frente à biblioteca da cidade.

As palavras do suspeito ante o tribunal de Westminster parecem confirmar as informações reveladas por testemunhas do crime.

Pela lei britânica, o indiciamento do suspeito significa que a imprensa não tem mais autorização para publicar tais informações, principalmente quanto às motivações do assassinato.

‘Forças obscuras’

A partir de seu avião Air Force One, o presidente Barack Obama telefonou ao marido da vítima para apresentar suas condolências e denunciar um “crime odioso”.

Esse assassinato abalou o país, e vigílias foram organizadas durante a noite em várias cidades britânicas.

Em Birstall, onde o primeiro-ministro David Cameron esteve na sexta-feira, vários habitantes, muitos em lágrimas, se reuniram no centro da cidade.

Centenas de pessoas também deixaram flores e observaram um minuto de silêncio na sexta à noite em Londres, em frente ao Parlamento onde Jo Cox estreou como deputada em 2015.

“Atravessamos um período turbulento no Reino Unido, como se o ódio tivesse sido liberadp. Ela (Jo Cox) sempre combateu as forças obscuras”, declarou à AFP Alice Poole, de 40 anos, uma entre os muitos anônimos que prestaram homenagem à deputada, uma fervorosa defensora dos direitos dos refugiados e engajada na campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia.

Os dois meses de campanha foram marcados por uma intensa hostilidade. Na manhã da tragédia, Nigel Farage, líder do partido anti-imigração UKIP, publicou uma imagem de uma fila de refugiados com o slogan “Breaking Point” (ponto de ruptura).

A imagem foi considerada ignóbil até mesmo entre os favoráveis do Brexit.

O tom deve agora mudar, acreditam os analistas consultados pela AFP. Mas nenhum deles se aventurou a prever as consequências desta tragédia na votação, enquanto as últimas pesquisas, realizadas antes do assassinato, apontavam uma vantagem para o Brexit.

Times pró-UE

Neste sábado, ambos os lados permaneceram em silêncio. Boris Johnson, o líder do pró-Brexit, cancelou o comício em Birmingham, enquanto o movimento “Britain Stronger In” anulou dezenas de eventos em todo o país.

Várias figuras políticas, como Jeremy Corbyn, George Osborne e Nigel Farage devem aparecer na TV durante os programas políticos de domingo de manhã e David Cameron será entrevistado pela BBC à noite.

Mas a campanha deverá ser retomada apenas na terça-feira, dois dias antes do referendo, com um debate no Wembley Arena para 6.000 pessoas.

Enquanto isso, o Parlamento, chamado para uma sessão extraordinária, prestará na segunda-feira uma homenagem nacional a “um de seus mais membros mais brilhantes e apaixonados”, nas palavras de David Cameron.

Após Financial Times e The Economist, The Times manifestou neste sábado ser favorável a uma manutenção do país na UE.

O jornal de centro-direita faz parte do grupo de mídia de propriedade de Rupert Murdoch, que também possui o tabloide The Sun. Este último disse ser favorável ao Brexit.

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