Nesta madrugada 5, sexta-feira, por volta das 2:30, faleceu o apresentador, humorista, jornalista, ator e escritor, José Eugênio Soares, mais conhecido como Jô Soares, aos 84 anos, é junto com ele morreu grande parte da arte brasileira. Afinal, Jô não era um artista. Eram centenas de Jôs. O Brasil jamais será o mesmo sem ele.
O apresentador do “Programa do Jô’’, exibido na “TV Globo” de 2000 a 2016, consagrado como um dos maiores humoristas do Brasil, estava internado desde o dia 28 de julho no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para tratar de uma pneumonia, mas a causa da morte não foi divulgada. O enterro e o velório estão acontecendo somente para a família e amigos, em local não informado. Era desejo do artista.
O anúncio do falecimento do apresentador foi feito por Flávia Pedra, ex-mulher de Jô e foi confirmada por meio de nota pela assessoria de imprensa do Hospital Sírio-Libanês.
“ Jô é o orgulho para todo mundo que compartilhou de alguma forma a vida com você. Agradeço aos senhores Tempo e Espaço, por terem me dado a sorte de deixar nossas vidas se cruzarem. Obrigada pelas risadas de dar asma, por nossas casas do meu jeito, pelas viagens aos lugares mais chiques e mequetrefes, pela quantidade de filmes que você achava uma sorte eu não lembrar para ver de novo, e pela quantidade indecente de sorvete que a gente tomou assistindo”, publicou Flávia por meio de uma rede social.
Em meio as inúmeras atividades artísticas que Jô Soares exercia, como a de escritor, dramaturgo, diretor, roterista, ator, ele tinha o humor como sua marca registrada. Foi seu ponto inicial e sua assinatura na TV, no cinema, no teatro, na literatura e nas artes plásticas.
“Tudo o que fiz, tudo o que faço, sempre tem como base o humor. Desde que nasci, desde sempre”, declarou o humorista em depoimento ao site “Memória Globo”.
Perfil do artista
José Eugênio Soares nasceu no Rio de Janeiro, em 16 de janeiro de 1938. Filho único do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Leal Soares. Na infância estudou em colégio interno. “ Chorava muito. Era uma coisa excessiva, uma coisa de sensibilidade quase gay”, afirmou ao Fantástico, em 2012. A razão era porque tinha medo de tirar notas baixas e não ter direito de voltar para a casa aos finais de semana. No colégio seu apelido era poeta. “Sendo gordo e ter o apelido de poeta, acho que já era uma vitória”.
Aos 12 anos de idade ele se mudou com a família para a Suíça. Lá, estudou no renomado colégio Lyceé Jaccard, em Lausanne.
“Eu pensei que ia seguir a carreira diplomática, mas sempre ia ao teatro, sempre ia assistir a shows, ia para a coxia ver como era. E já tentava números de sátira do cinema americano; fazia a dança com os sapatinhos que eu calçava nos dedos.”
Cinco anos depois, com 17 anos, após os negócios do pai fracassarem, Jô retornou ao Brasil. “Imediatamente comecei a frequentar a turma do teatro, a mostrar meus números e a coisa engrenou quase que naturalmente”, lembrou.
No ano de 1956, Jô fez sua estreia na televisão ao participar da “Praça da Alegria”, na Record TV, onde permaneceu por cerca uma década. Em 1959, se destacou como ator. No início de sua carreira cinematográfica, ao interpretar um americano no filme “O Homem de Sputinik”, de Carlos Manga.
Em 1958, participou do programa “Noite de Gala” e escrevia para o programa “TV Mistério” da TV Continental, que tinha no elenco Paulo Autran e Tônia Carreiro. Participou do programa “Noites Cariocas” da TV Rio.
Na TV Tupi, fez participações do “Grande Teatro Tupi”, entre os quais faziam parte nomes como Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Sérgio Brito e Aldo de Maia. “Eu consegui trabalhar ao mesmo tempo nas três emissoras que existiam no Rio”, recordou ao ‘’Memória Globo’’.
Em 1960, se mudou para São Paulo. “Vim descobrir São Paulo. Era casado com a Teresa, tinha 22 anos. Vim para passar 12 dias e fiquei 12 anos.” Recordou ao Fantástico ao citar o casamento com a atriz Thereza Millet Austregélio (1934-2021), com quem teve seu único filho, Rafael Soares, que era autista e faleceu em 2014, aos 50 anos.
Ainda para a TV Record, Jô atuou e escreveu para diversas atrações como “La reuve chic”, “Jô Show”, “Praça da Alegria”, “Quadra de Azares”, “ Show do dia 7”, “ Você é o detetive”. E a “A família Trapo”, da qual foi o principal destaque. Exibida entre 1967 e 1971, a série em que atuava como o mordomo Gordon e escrevia juntamente com Carlos Alberto Nóbrega.
“Foi o primeiro sucesso nacional da TV. “Saí um ano antes do fim do programa em 1970. Assinei contrato com a Globo.”
Seu primeiro programa humorístico na emissora foi “Faça Humor, não Faça Guerra” , junto com Renato Corte Real, ambos protagonistas e roteiristas. “Era um formato totalmente diferente. Era de quadros, mas quadros curtos, alinhavados por piadas e por dança, com músicas na época. A gente criava uma média de vinte e tantos personagens por ano”.
Após três anos, o programa foi substituído por “Satiricom”, o qual Jô também trabalhava como ator e redator. Posteriormente, ele integrou a equipe do “Planeta dos Homens”, o qual foi exibido entre 1976 e 1982. Jô deixou o programa em 1981 para estrear seu programa solo “Viva o Gordo”.
“Os meus personagens são muito mais baseados no lado psicológico e no social do que na caricatura pura e simples. Eu nunca fiz um personagem necessariamente gordo. Eles são gordos porque eu sou gordo.”
Destes icônicos personagens destacavam-se o “Reizinho”, o qual satirizava a situação política do Brasil na época, e o Capitão-Gay, personagem que usava um uniforme rosa.
Em1987, quando seu contrato venceu com a TV Globo, Jô foi para o SBT, onde estreou o programa humorístico “Veja o Gordo” e realizou seu sonho de apresentar um programa de talk-show. O programa “Jô Soares Onze e Meia” ficou no ar durante 11 anos, de 1988 a 1999 e rendeu mais seis mil entrevistas. Lá, recebeu figuras importantes ‘a época que vão do ex-presidente da então União Soviética, Mikhail Gorbachev a Bill Gates.
“Não foi uma mudança radical, mas uma continuação do meu trabalho de humor e também de jornalismo. E tem um lado de entrevista irreverente que só eu posso fazer com os políticos”, disse Jô ‘a época.
“Acho que descobri, também sem querer, a grande vocação da minha vida, a coisa que me dá mais prazer, mais alegria de fazer. Eu me sinto muito vivo ali. A maior atração do mundo é o bate-papo, a conversa”, afirmava ele.
Como jornalista, escreveu para a revista Manchete, para o Jornal O Globo e para a Folha de S. Paulo. Entre 1989 e 1996 foi colaborador da revista “Veja”. Como escritor Jô escreveu cinco livros “O astronauta sem regime” (1983), uma coleção de crônicas publicadas no jornal O Globo, o romance “ O Xangô de Baker Street”, o qual ficou entre os mais vendidos e foi adaptado para o cinema em 2001. “O Homem que Matou Getúlio Vargas” (1998), “Assassinatos na Academia de Letras”(2005) e “As Esganadas”.
Em 2000, Ele retornou a Globo para apresentar o “Programa do Jô”, o qual ficou no ar, durante 16 anos, até 2016.
“Não foi por uma questão salarial, porque a contraproposta do SBT era muito alta. Voltei pela possibilidade de fazer mais entrevistas internacionais, pelas facilidades de gravação, pelo apoio do jornalismo.”
Jô era fluente em cinco idiomas: inglês, francês, espanhol e Italiano, como também possuía bons conhecimentos em alemão. Em agosto de 2016 ele foi eleito para a Academia Paulista de Letras.
Além de sua primeira esposa, Jô foi casado outras duas vezes. Com a atriz Sílvia Bandeira, entre os anos de 1980 e 1983 e com a designer gráfica Flávia Junqueira Pedras, entre os anos de 1987 a 1998.
Jô também namorou a atriz Cláudia Raia durante dois anos em 1984 a 1986 e teve um breve relacionamento com a atriz Mika Lins.
Jô Soares afirmou para o Fantástico em 2012 que não tinha medo da morte.
“O medo da morte é um sentimento inútil: você vai morrer mesmo, não adianta ficar com medo. Eu tenho medo de não ser produtivo.”
Diversos artistas se manifestaram por meio das redes sociais para homenagear o amigo querido. Como a apresentadora Ana Maria Braga que publicou no Intagram.
“Eu tive a honra de conviver com esse jornalista e humorista tão talentoso e querido a todos nós. Hoje o dia amanheceu mais sem graça. Vá em paz meu amigo.”
Como também a apresentadora Adriana Galisteu. “Vou seguir te aplaudindo e através de suas obras aprendendo com você! Obrigada por tantas risadas, tantas conversas, por todos os ensinamentos. Te amo eternamente!”, escreveu Galisteu em seu twitter.