MILÃO, 15 MAR (ANSA) – O Ministério Público de Milão abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte de Imane Fadil, modelo marroquina de 34 anos que foi testemunha de acusação em processos sobre as festas com prostitutas nas mansões do ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi.   

Fadil faleceu no último dia 1º de março, no hospital Humanitas, de Rozzano, onde estava internada desde janeiro, mas a morte só foi divulgada nesta sexta-feira (15). Segundo o procurador Francesco Greco, a marroquina havia dito a advogados e parentes que temia ser envenenada.   

Fadil sentiu um mal-estar em janeiro passado, na casa de um amigo onde vivia, e foi internada no Humanitas. De acordo com Greco, ela apresentava sintomas típicos de envenenamento, como dor de barriga e no ventre e inchaço.   

O hospital, por sua vez, não comunicou a magistratura em nenhum momento sobre o estado de saúde da marroquina, inclusive no dia de sua morte. A Justiça já determinou a realização de uma autópsia no corpo da mulher e de exames de sangue, além da apreensão de objetos pessoais e documentos escritos.   

A hipótese do Ministério Público de Milão é de homicídio doloso, mas ainda não há nenhum suspeito investigado. Lele Mora, ex-agenciador de garotas de programa para as festas de Berlusconi, admitiu que levara Fadil para um jantar em Arcore, cidade onde fica a residência principal do ex-premier, mas descartou que os dois tenham mantido relações.   

“Acho que ela voltou só uma vez, e excluo que tenha ficado sozinha um segundo sequer com Berlusconi”, disse Mora, que chamou a marroquina de uma “pobre garota” e “verdadeiramente insignificante”. Já o hospital alega que fez “todas as intervenções clínicas possíveis” para salvar a paciente.   

Exames toxicológicos realizados pelo Humanitas e obtidos pela ANSA constataram um “mix de substâncias radioativas” no organismo. A marroquina era testemunha de acusação em um dos processos do inquérito “Ruby ter”, que investiga Berlusconi por corrupção em atos judiciários.   

De acordo com o Ministério Público, o ex-primeiro-ministro desembolsou milhões de euros para comprar o silêncio de garotas de programa no processo “Ruby”, no qual ele acabou absolvido das acusações de prostituição de menores e abuso de poder. O nome “Ruby” se refere a Karima el Mahroug, ítalo-marroquina pivô do escândalo sexual envolvendo Berlusconi.   

Em janeiro passado, no entanto, Fadil foi excluída do processo Ruby ter a pedido da defesa do ex-premier. Ela dizia ter negociado por cinco meses uma indenização com a senadora Mariarosaria Rossi, aliada próxima de Berlusconi e acusada de falso testemunho. Fadil também foi testemunha no caso Ruby e alegava ter sofrido “tentativas de corrupção”. (ANSA)