Ícone da fotografia do século XX, o americano de origem suíça Robert Frank, que faleceu na segunda-feira aos 94 anos, surpreendeu com seu livro fotográfico “The Americans” (1958), que teve profunda influência nas gerações seguintes.

O legendário fotógrafo morreu na Nova Escócia, Canadá, informou nesta terça-feira sua galeria nova-iorquina.

“Robert faleceu essa noite por causas naturais no hospital de Inverness”, na Nova Escócia, informou à AFP uma porta-voz da galeria Pace/MacGill de Manhattan.

Transformado em um clássico, verdadeiro manifesto contra os valores tradicionais, é o trabalho de um homem afiado que questionou e redefiniu os limites da imagem ao longo de sua carreira.

Rejeitado pelas editoras americanas, foi lançado primeiro na França, em 1958, pela editora Robert Delpire. Reúne 83 fotografias de mais de 28.000 (700 filmes) tiradas pelo autor durante uma longa viagem por 48 estados americanos.

O livro está alinhado com a Geração Beat, movimento literário e artístico, onde o instinto prevalece sobre os fundamentos das técnicas de fotojornalismo. As fotos são como se fossem tiradas, e não mais emolduradas.

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“Tentei esquecer as fotos fáceis para tentar trazer algo do interior”, explicou o autor, que prestigiava o senso de imediatismo e a ênfase no ponto de vista do fotógrafo.

A obra foi lançada nos Estados Unidos em 1959, com prefácio do escritor Jack Kerouac, autor do famoso romance “On the road”. É bem recebido: deprimente e subversivo, revela o lado sombrio do “sonho americano” – pobreza, segregação, desigualdades e solidão.

Como Kerouac e outros escritores da Geração Beat, Robert Frank havia embarcado em uma aventura, para o Oeste, ao longo da famosa Rota 66, com sua Leica pendurada no ombro. Entre abril de 1955 e junho de 1956, fotografou socialites de Nova York, lanchonetes, estradas, negros nos campos, drive-ins e assim por diante. Assim surgiu a reportagem subjetiva.

“Frank estava produzindo um sentimento por imagens”, disse Walker Evans, outro grande da fotografia, conhecido por seu trabalho sobre a Grande Depressão (por volta dos anos 1930) e que iria influenciar bastante Frank.

Vários fotógrafos usaram as redes sociais para manifestar seu pesar e dedicar palavras de admiração ao artista.

“Descansa em paz, gênio americano”, tuitou Jerry Saltz, crítico da revista New York e premiado com o Pulitzer da crítica. “Ele publicou ‘The Americans’ em 1958. Mudou o mundo”.

Foi precisamente com “Os Americanos” que o fotógrafo, que nasceu na Suíça e chegou a Nova York aos 23 anos, foi alçado à fama, com um olhar sincero sobre a sociedade americana que se tornou muito influente.

Muitos lembraram uma frase do escritor Jack Kerouac: “Com sua pequena câmera, que ergue e manipula com uma mão, ele tirou dos Estados Unidos um triste poema, ocupando seu lugar entre os poetas trágicos desse mundo”, escreveu o autor de “On the road” antes de acrescentar: “A Robert Frank envio essa mensagem: você tem olhos”.

– Medo de se repetir –

Nascido em 9 de novembro de 1924 em Zurique (Suíça), em uma família de industriais judeus alemães, Robert Frank se apaixonou pela fotografia desde muito jovem, trabalhando em laboratórios em Zurique e na Basileia a partir de 1940.


Em 1947, partiu para os Estados Unidos, onde passou a trabalhar como fotógrafo de moda e repórter em revistas como Fortune, Life ou Harper’s Bazaar. Rapidamente, dá-se conta de que esse mundo badalado e de riqueza não é para ele.

Então viaja, primeiro pela América Latina, depois pela Europa, principalmente França, Paris, que ele adora. Em 1953, retorna para Nova York. Recusando pedidos de revistas, obtém uma bolsa da Fundação Guggenheim, que lhe deu a liberdade de fazer seu trabalho como quisesse. Assim começa a aventura dos “Americanos”.

Em 1961, ele apresenta sua primeira grande exposição em Chicago, seguida por muitas outras.

Apesar de tudo, decide abandonar a fotografia pelo cinema: com o sucesso, diz ele, tem medo de “se repetir”.

Seu primeiro filme, “Pull My Daisy”, foi lançado em 1959, com Delphine Seyrig. Marcará, entre outros, o diretor John Cassavetes.

A década de 1970 foi de dificuldades: separado de sua esposa, com quem teve dois filhos, mudou-se com sua segunda mulher para um canto remoto da Nova Escócia, no Canadá. Sua filha morre em 1974 em um acidente de avião na Guatemala, enquanto seu filho mergulha em uma doença mental (ele se suicidou no início dos anos 1990).

Isso não o impede de desenvolver experimentações formais em torno da imagem. Dirigirá 20 filmes ao todo (incluindo curtas-metragens, ou clipes), inspirados em arte, rock, escrita, filhos e viagens, como “This Song for Jack” (1983), “Candy Mountain” (1987), ou “Paper Route” (2002).

Retorna mais ou menos à fotografia por meio da edição de instantâneos, trabalhando em negativos, ou polaroids.

“Destruo o que é descritivo nas fotos para mostrar como quero”, resumiu.


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