O pintor e escultor colombiano Fernando Botero, um dos artistas latino-americanos mais influentes do século XX, famoso pelas figuras opulentas que pintava e esculpia, morreu, nesta sexta-feira (15), aos 91 anos, em Mônaco, onde morava parte do ano.

“Morreu Fernando Botero, o pintor das nossas tradições e imperfeições, o pintor das nossas virtudes. O pintor da nossa violência e da paz. Da pomba mil vezes rejeitada e mil vezes colocada em seu trono”, escreveu Petro na rede social X, antigo Twitter.

Após a deterioração de sua saúde, Botero faleceu em Mônaco às 9h, horário local, disse sua filha, Lina Botero.

“Estava em uma situação delicada de saúde, há vários anos com um Parkinson rígido” e “desenvolveu uma pneumonia nos últimos cinco dias (…) Chegou um momento, em que estava ficando muito difícil respirar. Felizmente, morreu de forma tranquila”, declarou a filha do artista à Blu Rádio da Colômbia.

Nascido em 1932 em Medellín, no centro da Colômbia, ele é considerado um dos mais importantes artistas latino-americanos do século XX, celebrado em leilões de arte mundial em Nova York ou Londres.

“Continuou pintando até o final, mas não a óleo, porque lhe dava muito trabalho ficar de pé. Mas trabalhava com aquarela”, acrescentou Lina.

Botero trabalhou pela última vez no sábado, em seu ateliê em Mônaco, antes de sua doença respiratória piorar, acrescentou.

O prefeito de sua cidade natal, Daniel Quintero, decretou sete dias de luto: “Lamentamos, profundamente, a morte do mestre Botero, um grande mestre da arte, da cultura, mas também por seu amor por Medellín, por seu amor pela Colômbia, por seu amor pela América Latina”.

Artista latino-americano mais vendido em vida, Botero bateu seu próprio recorde em 2022, quando sua escultura “Hombre a Caballo” alcançou US$ 4,3 milhões (R$ 22,43 milhões na cotação da época), em um leilão da casa Christie’s.

– Deixar este mundo –

“Penso com frequência sobre a morte e lamento deixar este mundo e não poder mais trabalhar porque tenho grande prazer trabalhando”, disse ele em uma entrevista à AFP por ocasião do seu 80º aniversário, em 2012.

“Morreu um grande homem, deu um bom nome ao país, enalteceu a cultura”, escreveu o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe (2002-2010).

Com formas voluptuosas e levemente surrealistas, as obras de Botero se tornaram populares em todo o mundo, podendo ser vistas em museus e espaços públicos de cidades como Bogotá, Madri, Paris, Barcelona, Singapura e Veneza.

Para o artista, as exposições em espaços públicos são uma “forma revolucionária” de aproximar a arte do público.

– Ao ar livre –

Ele doou cerca de 20 de suas enormes esculturas de bronze para sua cidade natal, Medellín, em 2004. Expostas ao ar livre, na Plaza Botero, as obras foram vandalizadas em 2020 por desconhecidos que usaram “substâncias químicas” para descolorir o metal. O episódio gerou indignação.

Outra escultura instalada em uma praça de sua cidade foi parcialmente destruída em 1995 por uma bomba que matou 23 pessoas, em plena guerra do Estado colombiano contra os cartéis do narcotráfico e as guerrilhas de esquerda. Os autores do ataque não foram identificados, e os restos da obra “El Pájaro” permanecem no Parque de San Antonio.

Filho de um modesto trabalhador do comércio, Botero se iniciou na arte precocemente e contra a vontade da família. Aos 15 anos, vendia desenhos com temas de touradas na entrada da Plaza de Toros La Macarena.

Seu legado, que inclui mais de 3.000 pinturas e 300 esculturas, foi pautado por sua insaciável sede de criação. Nos últimos anos, trabalhou 10 horas por dia.

A mera ideia de abandonar os pincéis “me aterroriza mais do que a morte”, afirmou.

De Paris, a galerista Leonor Parra, fundadora do evento artístico “Carré Latin”, disse à AFP que Botero “era, sem dúvida alguma, um dos artistas vivos mais importantes da América Latina. Sua preocupação com o volume marcou uma época da figuração latino-americana. Mais do que um artista colombiano, ou latino-americano, é um artista mundial”.

Nos corredores do Museu Botero, que reúne mais de uma centena de suas obras no centro histórico de Bogotá, o turista costarriquenho Fabio Umaña contou à AFP que chegou ao local depois de saber da morte do artista.

Ele disse que parte de sua obra põe em foco “com uma leitura correta” a violência armada no país, que em seus décadas deixou mais de um milhão de mortos e cerca de oito milhões de deslocados.

Durante anos, Botero dividiu sua vida entre um vilarejo na Toscana (Itália), Nova York, Medellín e Mônaco. Desde 1976, era casado com a artista grega Sophia Vari, que faleceu em maio deste ano.

“Desde que Sophia morreu, sua companheira de alma de 48 anos da vida, meu pai sofreu um baque muito duro, que produziu nele uma tristeza infinita”, lamentou sua filha, Lina.

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