Com o documentário "A Tristeza e a Piedade" (1969), diretor estilhaçou mito da resistência francesa aos nazistas ao expor escala do colaboracionismo que marcou ocupação durante a 2° Guerra. Ele tinha 97 anos.O documentarista franco-alemão Marcel Ophüls, célebre por suas obras que expuseram momentos dolorosos da história da França, morreu no último sábado (24/05) aos 97 anos, anunciou nesta segunda-feira a família do cineasta em comunicado.
"Através de um olhar pessoal, alimentado por uma rigorosa exigência documental, Marcel Ophüls captou momentos duradouros que a história e a política deixam na vida das pessoas. Exortou-nos a permanecer lúcidos, empenhados e profundamente ligados à democracia", escreveu o neto Andreas-Benjamin Seyfert, na nota distribuída à imprensa.
Em 1969, Ophülsprovocou grande comoção na França com o documentário A Tristeza e a Piedade, que ajudou a destruir um mito fundador do pós-guerra, que propagava que a França e os franceses haviam resistido em massa à ocupação nazista entre 1940 e 1944.
Com o documentário, Ophuls expôs como a colaboração com os nazistas era generalizada, da elite até as pessoas mais humildes. Com mais de quatro horas de duração, o filme inclui entrevistas de oficiais alemães, colaboradores e combatentes da resistência. Para as câmeras, vários deles falaram francamente sobre a natureza e os motivos da sua colaboração com os nazistas, incluindo antissemitismo, anglofobia e desejo de poder.
Ophüls disse à época do lançamento do filme que não pretendia julgar a França. "Durante 40 anos, tive que suportar todas as tolices de que era um filme de acusação. Quem pode dizer que sua nação teria se comportado melhor nas mesmas circunstâncias? questionou.
Marcel Ophüls nasceu em Frankfurt, na Alemanha, em 1927. Mas logo a sua família exilou-se na França e depois nos Estados Unidos para escapar dos nazistas.
Já depois da Segunda Guerra Mundial, Marcel Ophuls regressaria a França, tendo começado a trabalhar como assistente de direção de outros cineastas, incluindo seu pai, o conhecido diretor alemão Max Ophüls (1902-1957), que teve uma carreira prolifica tanto na Alemanha quanto nos Estados Unidos.
Após A Tristeza e a Piedade, Marcel Ophuls também dirigiu L'Empreinte de la Justice (A Marca da Justiça, 1976), que aborda diferentes crimes de guerra e contra a Humanidade, usando como pano de fundo os julgamentos de Nurembergue (1946) e a Guerra do Vietnã. Na sequência, lançou Hotel Terminus (1988), sobre o criminoso de guerra nazista Klaus Barbie. Com este último filme, venceu o Oscar de Melhor Documentário em 1989.
Segundo a família, Marcel Ophüls vinha trabalhando num filme "sobre a ascensão da extrema direita na Europa e nos Estados Unidos e o conflito israelo-palestino". "Nele, analisava a ocupação dos territórios palestinos e a possível relação entre esta situação e o ressurgimento do antissemitismo na Europa", diz o comunicado.
Jps (AFP, Lusa)